CESAR LIMA | Vitória de Trump, mas e o Brasil?

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Novamente fui atropelado pelos fatos. O artigo dessa semana seria sobre outro assunto, mas depois da noite de terça-feira, ficou impossível. É preciso falar sobre a histórica vitória de Donald Trump para ser, de novo, presidente dos Estados Unidos da América. Esse fato afetará politicamente o Brasil nos próximos anos, mas o quanto?

Não pertenço à Direita mais ufanista. Não vejo na eleição do “homem laranja” a solução para o estado de deterioração da nossa república, transformada em uma juristocracia anticonstitucional. Não será Trump que irá combater a falência do nosso Estado de Direito e muito menos o nosso crime organizado. Esses problemas deverão ser enfrentados e resolvidos por nós mesmos.

Portanto, não haverá invasão dos fuzileiros navais americanos em nossas praias, nem bombardeios em Brasília. Trump não prenderá pessoalmente todos aqueles homens que hoje converteram o Brasil em um país policialesco, autoritário, e numa crise econômica e social sem precedentes.

Basta vermos como foi seu governo anterior, de 2017 a 2020. Esse foi bem mais voltado aos próprios Estados Unidos, refletido nos slogans de campanha “America First” e “Make America Great Again”. Limitou seu olhar para China, Europa e Oriente Médio; evitou muitos conflitos pelo mundo; e fez até uma boa gestão para os americanos. Para nós, porém, fez pouco ou nada.

Em seu primeiro governo, com relação ao Brasil, ou mesmo à América Latina, o olhar de Trump foi basicamente míope. A América Latina sempre foi vista por Rússia e China como um excelente meio de espicaçar o gigante americano. A situação, que já era bem complicada, foi piorando aos pouquinhos, com a Venezuela entrando na fase sangrenta da Ditadura Maduro e outros agentes do Foro de São Paulo tomando cada vez mais poder em seus países.

Com a queda de Trump em 2020 e a assunção de Biden ao poder, essa situação se agravou ainda mais. Como os EUA, e o mundo, estão piores hoje do que em seu primeiro mandato, então é meio óbvio que as atenções de Trump serão redobradas aos problemas que afetam diretamente seu país.

Contudo, tampouco acredito que sua vitória irá passar em branco sem trazer alguma conseqüência ao nosso combalido Brasil. Há fatores que podem vir nos ajudar: o Congresso americano já vem buscando apurar a influência do governo Biden no Brasil; a proximidade pessoal de Trump com os Bolsonaro; e o fato de dois dos principais consultores de Trump terem sido vítimas recentes da nossa ditadura tupiniquim.

Os republicanos conquistaram a maioria no Senado, e a Câmara dos Deputados se encaminha para manter a maioria republicana. Com a maioria no Legislativo e com Trump na Casa Branca, o cenário promete.

No Senado, Rick Scott, da Flórida, foi reeleito. Ele é o responsável pela investigação para apurar a perda da liberdade de expressão e perseguição política no Brasil pelas redes sociais. Já há um pedido ao chanceler americano requerendo providências contra o Brasil e suas autoridades.

Na Câmara, já houve uma audiência pública para averiguar a conduta do governo Biden no apoio à eleição de Lula e o papel do governo em financiar e apoiar politicamente atos de censura e perseguição política praticados por servidores brasileiros. Há um projeto aprovado na Comissão de Constituição visando sanções ao Brasil por causa dessas perseguições. Dois deputados atuantes nisso foram reeleitos: Chris Smith, de Nova Jérsia; e Maria Elvira Salazar, da Flórida.

Outrossim, não podemos ignorar a aproximação pessoal de Trump com Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo. Já há notícias de que Trump convidará Bolsonaro para sua posse em janeiro. Isso já pode criar a primeira tensão política séria, visto que Jair está com seu passaporte retido por ordem do Supremo. Será que vão liberar? Teremos uma crise diplomática?

Por fim, temos as questões envolvendo Elon Musk e Jason Miller. Ambos, com a eleição de Trump, passaram a ser parte dos principais conselheiros do Presidente e devem ocupar cargos de destaque no futuro governo. Ambos tiveram problemas recentes com o Brasil.

Musk foi o pivô da briga entre Alexandre de Moraes e o X, a qual culminou com o banimento da rede social, a inclusão de Musk em inquéritos no Supremo, e a retenção das contas bancárias do X e da SpaceX no Brasil. Miller, CEO da rede social GETTR, esteve no CPAC em Brasília em 2021 e foi detido ao tentar retornar aos EUA. Ficou por várias horas em uma sala da Polícia Federal, respondendo perguntas absurdas a policiais que sequer falavam em inglês; outro vexame internacional a mando do Ministro Alexandre.

Essas especulações já foram acusadas pelo Palácio do Planalto e pelo Supremo, apesar de os ministros dizerem não estar levando a sério. Cumpre-nos esperar para vermos as cenas dos próximos capítulos dessa triste novela brasileira, com seus heróis, vilões, vítimas e muitos canastrões em cena. A ver.

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