VITOR MARCOLIN | Resenha do “filme” ‘Olavo Tem Razão’

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Qual é a semelhança entre um mau cineasta e um bom açougueiro?

Recordo-me da noite do lançamento do filme do Josias Teófilo sobre o trabalho do professor Olavo, O Jardim das Aflições. Eu era um novato no COF, mas a experiência do filme não foi meramente uma extensão das aulas. Não. Havia algo mais. Era a arte. O filme era uma obra de arte. A música equilibrada entrava sempre nos momentos certos; as falas do protagonista, o próprio Olavo, eram entremeadas pelos comentários de terceiros na medida certa. Mas não só. As imagens da Virgínia — sobretudo as tomadas aéreas — eram deslumbrantes, exóticas aos olhos de um nativo do Brasil, onde onça é mato e urso pardo é uma quimera. 

Saí do Shopping Metrô Santa Cruz, na Vila Mariana, com a única sensação possível a uma criatura racional: investi meu tempo em algo que valeu a pena. That’s all, folks! O filme mudou a minha vida? Obviamente não. Um adolescente recém-converso à Fé Católica, entusiasmado com a moda de rezar o Pater Nostrum em latim e que começara a ler os livros dos “autores conservadores” com o afã de quem experimenta mel pela primeira vez, poderia afirmar positivamente: “Sim, O Jardim das Aflições mudou a minha vida!”. Exagero típico de quem ainda não aprendeu a medir as coisas com precisão razoável. O professor Olavo diria que é falta de “senso das proporções”.

O filme do Josias tem o seu mérito, e o maior deles é ser um filme de verdade. Um filme na acepção mesma de expressão da Sétima Arte. Tenho a impressão de que depois d’O Jardim das Aflições meio mundo de gente passou a dar vazão às suas cócegas de cineasta. Uma pena, porque o talento não é um bem que se distribui igualitariamente; daí que, vez ou outra, somos brindados com “filmes” de qualidade duvidosa. Eu me refiro à produção artística, à arte; as boas intenções dos novos cineastas — boníssimas até — não me interessam absolutamente. Prefiro ser prático — e sincero.

Assisti ao “filme” Olavo Tem Razão, do Mauro Ventura. E não gostei. Posso explicar todo o porquê pelas aspas que separam o substantivo “filme” das palavras da minha pena. Quero dizer que não me responsabilizo por esta descabida categorização. Olavo Tem Razão não é um filme, é um documentário — e dos mais chatos. E eu não digo isto, caro leitor, do alto daquele contentamento próprio do crítico que se compraz em maldizer. Não! Confesso que estou com certa raiva dos responsáveis, mas sinto mesmo uma tristeza: poderia ter sido, mas não foi. Não foi!

O documentário é longo, longo, longo… Parece a história de Robinson Crusoé, maldita história sem fim — e sem divisão por capítulos! Mas, claro, assim como a narrativa de Daniel Defoe, o trabalho cinematográfico tem lá os seus méritos. A bem da verdade, fui precipitado ao empregar o plural no substantivo; é mérito, no singular: as falas do Olavo. Pronto. Se o Olavo tem razão, então deixem o homem falar. Mas não.

O documentário é salpicado de falas de terceiros sobre o Olavo, comentaristas que se esforçam em dizer, em explicar a importância extraordinária do trabalho do professor. Seria mais eficiente e didático dar mais voz à estrela do “filme”, assim o público — relativamente habituado a vê-lo e a ouvi-lo — tiraria mais uma vez a prova real das qualidades louváveis do Olavo de explicador-mor das próprias ideias. Qualidades estas, aliás, pelas quais ele ficou conhecido.

Eu poderia dizer mais sobre outros fatores que, na minha óptica, contribuíram para o fracasso do documentário, como a música e o tempo de duração do “filme”. Tive a impressão de que os responsáveis queriam que até Jean Sibelius risse das piadas do professor. Por fim, posso responder à pergunta que abre esta resenha: a semelhança entre um mau cineasta e um bom açougueiro é que ambos enchem linguiça! O dito “filme” só não foi um fiasco porque aquilo não foi um filme. Lástima!, porque eu queria, do fundo do coração, que fosse verdadeiramente uma grande realização.  

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