SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Um Domingo Diferente

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

“Loucura” realmente explica muita coisa


Teve final do Gauchão de Futsal aqui na cidade ontem. Escrevi por que isso é importante para mim.


Ontem, domingo, 3 de dezembro, ocorreu aqui em Uruguaiana a partida de ida da Final da liga gaúcha de futsal. É a primeira vez que o clube local, a Associação Esportiva Uruguaianense, fundado em 1990, participa da decisão do torneio.

Eu sou sócio do clube. Criei um perfil no Instagram para contar a história da Associação (@aeu_estatistica). Sou torcedor desde a minha adolescência, pré-internet, quando tentava acompanhar os jogos desde Porto Alegre com muita dificuldade. Vim morar aqui no ano em que o departamento foi reativado, após dez anos licenciado. Parecia destino.

Vi o time subir da Bronze (3ª) para a Prata (2ª) para a Ouro (1ª) em 2 anos. Vi o time disputar uma semifinal de elite após 24 anos. Vi o time parar devido à pandemia. Vi a dificuldade para retomar logo depois. Comecei a juntar os resultados. Tenho 507 jogos listados: 208, desde 2016; e 299, de 1990 a 2005. Ainda há lacunas para completar.

Semana passada, um amigo, também torcedor apaixonado pelo “Touro da Fronteira” [só eu o chamo assim, mas o apelido vai pegar] me convidou para co-escrever um livro sobre o tema. Eu aceitei.

A Associação Esportiva Uruguaianense tem um título na sua história: a Série Bronze (terceira divisão) de 2016. Tem uma coleção de vice-campeonatos: 5, ao todo. Só no ano passado, foram 2. Contudo, na elite do principal campeonato do estado, nunca tinha chegado tão perto da conquista.

Temos uma questão geográfica para lidar. Os clubes mais próximos ficam a quase 500km de distância. [Aliás, as quatro cidades mais próximas ficam entre 75km e 180km – e nenhuma tem time atualmente.] Nenhum outro é tão isolado.

Sem títulos e sozinhos, o que liga torcedor e clube é o próprio clube. Público ruim aqui seria considerado sucesso absurdo noutras cidades. Nós não temos grandes empresas. Somos da metade pobre do estado. A camisa é uma página dos antigos Classificados de jornal. Cada um ajuda um pouco.

O clube não tem hino. Os fundadores decidiram que o hino do clube seria o hino da cidade. E impressiona como clube e cidade realmente são unidos. Todo mundo pega junto.

Conversei com o treinador da Associação na véspera do jogo. Perguntei-lhe se ele já tinha experimentado algo parecido: “Trabalhei em São Paulo, no Paraná, e no Distrito Federal. Igual àqui, eu nunca tinha visto.” Aqui, futsal é o esporte da cidade. E a cidade tem mais de 110 mil habitantes. Não é o típico “bairro com prefeito” que existe pelo interior.

Até por isso, gosta-se de dizer que a Associação, que sua torcida, que aqui em Uruguaiana “é diferente”.

Ontem, eu senti exatamente isso; é diferente. Porém, de um jeito que nunca tinha sentido antes. Até então, eu nunca percebera que o “Paulo-gremista” e o “Paulo-tourista” são diferentes, apesar de ambos serem eu. Não importou nada ser a “enésima” finalíssima minha como torcedor.

Era a primeira vez da Associação [ainda que já houvesse disputado finais de Bronze, Prata, Copa dos Pampas, e Taça Farroupilha — não nos esqueçamos], e eu também senti como se fosse a minha primeira. Eu não sabia como me comportar. Fiquei arrepiado. Chorei.

Meu filho mais novo me olhou incrédulo. ¿O que dizer? Torcer para a Associação realmente é diferente.

Do outro lado, na final, há um clube de Liga Nacional, cheio de conquistas, com um ginásio de alta qualidade, e um apoiador forte (Tramontina). Tudo o que a gente não tem. O contraste não poderia ser mais gritante.

Em compensação, a gente tem… a gente. Os agentes que levam a Associação adiante; contra os “contras” que gostariam que a gente desaparecesse. Nós somos grandes, também. Merecemos estar onde estamos.

Foi uma linda festa, em horário péssimo. O jogo foi no domingo de manhã. Ainda por cima, chovia canivete. Mesmo assim, uns abnegados enfrentaram o temporal com sinalizadores para receber o time na chegada ao ginásio às 10h da manhã.

Isso é torcer para a Associação.

Gostaria muito de contar aqui que Davi venceu Golias. Não foi assim. No nosso ginásio acanhado de piso remendado, perdemos por 2×0.

Mas tem o jogo de volta ainda. Não há saldo. Não há vantagem. Se vencermos, a decisão vai para a prorrogação. Se essa empatar, há pênaltis. A Associação já aprontou das suas antes. Por que não outra, agora?

Domingo, 10/12, às 11h. ACBF x Uruguaianense. Transmissão no Youtube.

A questão é quantos torcedores visitantes haverá em Carlos Barbosa. Será épico.

“Juntos somos mais fortes”
“Pra cima deles, Associação”

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