SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Portugal: a Nova Direita e o novo governo

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Portugal falou. Disse “Chega!” Mas há quem não queira ouvir…


O crescimento da Nova Direita em Portugal incomoda por lá. Os socialistas acabaram de tomar uma surra e perderam o governo. Nem juntando a Esquerda toda se forma maioria. O governo será de Direita, pois o partido com mais cadeiras no Parlamento é a ‘Aliança Democrática’ (coalizão de Direita formada por sociais-democratas, democratas cristãos, e conservadores monarquistas). O problema é que sozinho o A.D. está longe de ser a maioria, porém se recusou a compor com o ‘Chega’ – o partido da Nova Direita lusa. Vejamos os cenários possíveis para Portugal no futuro próximo.


Quarta-feira, 29 de Quaresma de 524

Os portugueses foram às urnas e, após 3 vitórias consecutivas da Esquerda (entre 2015 e 2022), o resultado foi um contundente “basta!” – ou, mais apropriadamente, “Chega”. Afinal, a ascensão do Chega, o partido da Nova Direita portuguesa, foi a principal novidade do pleito deste ano.

Na segunda vez em que participa, o Chega obteve 48 assentos no Parlamento (36 a mais que em 2022). É a 3ª força no país, atrás do Aliança Democrática (coalizão de Direita formada por sociais-democratas, democratas cristãos, e conservadores monarquistas, com 79 cadeiras) e do Partido Socialista (77), que perdeu 43 deputados e o governo.

A Direita conseguiu mais 8 deputados com o Iniciativa Liberal. A Esquerda, com outros 4 partidos, somou 14. Faltam definir 4 vagas ainda.

É preciso 116 deputados para se alcançar maioria. A Esquerda não consegue, nem se quisesse. Já a Direita se recusa. Sim, a A.D. formará um governo minoritário.

Por mais maluca que possa parecer a recusa do A.D. em unir-se com o chega, há precedente. Em 1983, foi o P.S. que se recusou a formar um governo de Esquerda com os comunistas. Porém, à época, o governo foi majoritário, resultado de uma aliança entre a Esquerda socialista e a Direita social-democrata conhecida como Bloco Central. Desta vez, nem isso.

Desde então, houve alguns governos minoritários em Portugal. Foram todos dos socialistas. O único que durou todo o mandato foi o primeiro, em 1995. Também era o com maior representatividade do P.S. (48,7%). O governo de 2009 fracassou administrativa e eleitoralmente. Já o de 2019 conseguiu salvar-se – pelo menos, até o ano passado; quando o primeiro-ministro se viu obrigado a renunciar em meio a casos de corrupção.

Frise-se, nenhum desses governos minoritários foi tão minoritário quanto o de agora. Aliás, desde 1983, nunca em Portugal o partido líder do governo teve tão pouca representatividade (34,35%). Ainda assim, o A.D. prefere arriscar algo sem precedentes a juntar-se com o Chega.

Para não dizer que todo o A.D. tem “nojinho”, o líder dos monarquistas defendeu a formação de um governo majoritário. Contudo, dentro do Aliança foi voto vencido.

¿Como o A.D. pretende governar assim? Só há dois caminhos: ou bem negocia os projetos com o P.S. ou com o Chega. Noutras palavras, ou bem governa agradando a Esquerda ou a Nova Direita. Se a escolha for a segunda, a recusa em formar maioria seria hipócrita. Se a escolha for a primeira, o A.D. estaria indo claramente contra a vontade do eleitorado – o qual compareceu às urnas como há duas décadas não se via.

Ficarei surpreso se o novo governo luso tiver longa duração.

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