Seria trágico se não fosse cômico
Havia esquecido como é rir da própria desgraça, no caso, d’um governo tão desgovernado e desastrado, que nem de ditadura serve. Passei quatro anos rindo de nervoso, no tic tac que quase explodiu meu coração, esperando a hora chegar.
Finalmente, posso rir da quase tragédia bananeira. Da democracia super equilibrada, que escorre como fel das bocas fétidas dos representantes da (sic) grande imprensa (sic). Oras, um equilíbrio perfeito! Afinal, um lado manda prender, afastar governadores, assume que quer “ditadura sempre”, o outro corre alucinado pelo Alvorada e vê o alvorecer num gulag nomeado de Colmeia.
Entre roubo de porta e defecação, houve quem encontrasse boas vibrações, mas ficou nisso. Portanto, me resta rir dessa desgraceira toda e das trabalhadas da quadrilha que voltou à cena do crime e à convite das vítimas.
O Egresso Etílico, com sua faixa surrada e remendada, precisa lidar com os amigos pero no mucho e os amigos da onça, que já morreu afogada. Os primeiros nos brindam com declarações maravilhosas, como errar o resultado de 8 + 4 ou dizer que deseja “ditadura sempre”, ou afirmar a metáfora da picanha, os segundos, com análises retais e gritos banais, mas torram a paciência.
Anseio pelas declarações da Mãe Dilmá, com suas previsões apocalípticas de que “vai todo mundo perder” e a saudação à mandioca. Talvez joguem de vez a bandeira nacional no lixo e coloquem um pano de chão com uma mandioca desenhada ao centro, simbolizando o tamanho da trolha que empurrarão no bovino eleitor.
Se chorar não adianta e gritar só piora, que venham as risadas. Diferente da luz solar, o riso ainda, não paga imposto… No máximo dá uma cana, que não é doce, nem mole.
Brasil, condenado à esperança.
— Millôr Fernandes
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