REFLEXÕES丨I – O Desafio Plekhânov  

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Um prelúdio

Ler nos permite, de certa forma, conversar com as mentes mais brilhantes, mais perversas ou mais santas da humanidade. É uma experiência incrível. Pessoas que estão separadas de nós no espaço e de modo irremediável no tempo nos falam sobre o que pensam, sobre o que sentem e nos contam seus planos e sonhos; elas nos ensinam, nos influenciam, nos premiam com tesouros de épocas remotas ou nos transmitem suas mazelas; afinal, de certa forma, todos vivem hoje nas mentes que os recepcionam, tudo graças à arte da leitura. 

Aqueles que têm o hábito da leitura deparam-se muitas vezes com textos notáveis. Quem me lê, neste momento, certamente já teve a experiência de parar diante de um texto e pensar: Nossa! Incrível! Eventualmente, como eu diante da República ou da Paidéia, logo após ter iniciado a leitura de uma obra, parar, fechar o livro e, maravilhado com o que viu, pensar: preciso ter mais cultura para apreciar bem esta obra! 

Bom, foi com esses pensamentos que decidi escrever alguns textos curtos que chamarei de fragmentos ou reflexões. Neles tratarei de citações e textos interessantes demais para serem apenas arquivados ou lamentavelmente esquecidos, quando poderiam ser difundidos para instruir, ajudar ou maravilhar outras pessoas; textos curtos, mas precisos e claros sobre temas diversos.  

Escolhi começar com algumas reflexões que têm origem no que chamei de Desafio de Plekhânov. Aliás, para nos mantermos fiéis ao que acabamos de prometer, vamos à primeira reflexão! 

Desafio de Plekhânov

O revolucionário russo, Georg Valentinovitch Plekhânov (1856-1918), considerado o pai do marxismo russo e um dos fundadores da social-democracia russa, defendeu o pensamento de Marx e Engels contra os chamados revisionistas na década de 1890. Foi sem dúvida um dos poucos que estudou com rigor a filosofia de Marx e Engels e, segundo Lênin, seus trabalhos sobre a filosofia do marxismo são “os melhores de toda literatura internacional do marxismo“.

Cf.: https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/p/plekhanov.htm  

G. Plekhânov foi uma das personalidades mais influentes da Segunda Internacional Comunista e esteve junto a Lênin escrevendo no Iskra e na Zariá, periódicos comunistas, órgãos centrais do Partido Social-Democrata Russo. Quem quer que tenha lido sua obra, Os Princípios Fundamentais do Marxismo (1908), sabe que o conhecimento de Plekhânov sobre filosofia, de modo geral, é amplo e bastante profundo. 

Ora, nesta mesma obra, Os Princípios Fundamentais do Marxismo, Plekhânov nos brinda com uma afirmação tão clara quanto interessante: 

Em suma, não são, no caso, os materiais que faltam; é apenas necessário saber servir-se deles, ou seja, estar preparado para compreendê-los. Mas os leitores atuais não estão preparados para isto e logo não sabem deles se servir. E por quê? Por múltiplas razões. Uma das mais importantes é que atualmente se conhece muito mal não só a filosofia hegeliana, sem a qual é difícil assimilar o método de Marx, mas também a história do materialismo, sem a qual não é possível ter uma ideia clara da doutrina de Feuerbach, que foi, em filosofia, o predecessor imediato de Marx, e que forneceu, em considerável medida, a base filosófica da concepção de mundo de Marx e Engels.”.
G. V. Plekhânov. Os princípios Fundamentais do Marxismo. São Paulo, Ed. Hucitec, 1978, p. 10. 

É muito claro e simples! Plekhânov citou alguns textos e obras de Marx e Engels que, segundo ele, seriam suficientes para se conhecer bem a filosofia destes autores. Todavia, de nada adianta os textos e as obras se as pessoas não estão preparadas para entendê-las! E as pessoas não estão preparadas para entendê-las por que não conhecem a filosofia de Hegel nem a doutrina de Feuerbach. Ponto.  

Sendo assim, chegamos ao que chamei de desafio de Plakhânov, isto é:  para entender o pensamento de Karl Marx você precisa estudar a filosofia de Hegel e o pensamento de Feuerbach. Caso contrário, você será como 99,999% das pessoas: incapaz de entender realmente o que foi o marxismo. Ponto final. 

Decidimos, então, seguir essa dica de Plekhânov e assim procederemos nas reflexões seguintes, passo-a-passo, ponto a ponto, na busca de entender realmente o marxismo, o verdadeiro pensamento de Karl Marx. 

Não se assuste, caro leitor, não levaremos essa empreitada a termo por meio de um curso exaustivo sobre Hegel ou Feuerbach, não. Isso seria longo demais e, certamente, tedioso demais. Aqui faremos diferente. Pegaremos atalhos. Observações perspicazes de diversos autores são os atalhos que nos conduzirão às questões cruciais de modo mais fácil, divertido e, algumas vezes, de maneiras inusitadas, mas sem jamais perder o rigor da lógica na análise nem a fidelidade aos textos dos autores.  

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