PAULA MARISA | O Dia dos Pais virou um caso de polícia

Paula Marisa
Paula Marisahttps://www.paulamarisa.com.br/clube-marisa
Especialista em educação, palestrante e comentarista política. Meus pronomes são Vossa Majestade/Vossa Alteza.

Um casal de mulheres em Jaboatão dos Guararapes (PE) registrou um boletim de ocorrência contra um colégio após sua filha ter chorado durante um evento de Dia dos Pais na escola. As mães da menina, alegam que a instituição ignorou o pedido feito por elas para que a criança não participasse da celebração, resultando em “desconforto emocional” para a filha.

Vários casos ao redor do mundo têm surgido onde escolas ou indivíduos propuseram o fim da comemoração do Dia dos Pais, sempre com a desculpa de que há uma diversidade das configurações familiares e, portanto, há necessidade de incluir crianças que não têm uma figura paterna presente. A seguir, estão alguns exemplos notáveis:

1. Escócia: Escolas Substituem o Dia dos Pais por “Dia da Família”

Em 2017, algumas escolas na Escócia decidiram substituir as comemorações do Dia dos Pais por um “Dia da Família”. A medida foi tomada para reconhecer a diversidade das estruturas familiares modernas, onde muitas crianças são criadas por mães solteiras, casais do mesmo sexo, ou outros arranjos familiares não tradicionais. A justificativa apresentada é de que precisamos evitar que crianças sem uma figura paterna se sentissem excluídas ou desconfortáveis durante as celebrações.

2. Suécia: Proposta para Abolir o Dia dos Pais e das Mães

Na Suécia, onde a agenda de gênero é uma prioridade social, houve propostas para abolir tanto o Dia dos Pais quanto o Dia das Mães, substituindo-os por um “Dia dos Pais e das Mães” ou um “Dia dos Cuidadores”. A ideia é celebrar todos os cuidadores de forma igualitária, independentemente de gênero, reconhecendo a diversidade das famílias suecas modernas.

3. Nova Zelândia: Escola Abandona o Dia dos Pais

Em 2018, uma escola na Nova Zelândia optou por não celebrar o Dia dos Pais, substituindo-o por uma comemoração mais inclusiva chamada “Dia de Cuidadores”. A decisão foi tomada para evitar que crianças em lares sem uma figura paterna se sentissem marginalizadas. A escola enfatizou a importância de todos os tipos de cuidadores na vida das crianças, reconhecendo que nem todos têm um pai presente.

4. Austrália: Proposta para Acabar com o Dia dos Pais

Em 2017, uma escola em Melbourne, na Austrália, se envolveu em uma controvérsia quando sugeriu substituir o Dia dos Pais por um “Dia de Cuidadores”, para ser mais inclusiva com as crianças que não têm pais presentes. A proposta gerou um grande debate na mídia e entre os pais, com alguns argumentando que a mudança era desnecessária e outros apoiando a inclusão de todas as configurações familiares.

5. Brasil: Discussões sobre a “inclusão” nas Comemorações Escolares

No Brasil, há escolas que têm repensado a forma como celebram o Dia dos Pais, buscando abordagens mais “inclusivas”. Em alguns casos, as escolas optam por comemorar o “Dia da Família” ou simplesmente destacam a importância de todas as figuras cuidadoras, independentemente do gênero ou da relação biológica com a criança. Sob o argumento de que precisamos evitar situações onde crianças que não têm um pai presente se sintam excluídas ou desconfortáveis, os pedagogos acabam por minimizar a importância que tanto a comemoração quanto a figura paterna têm para o desenvolvimento infantil.

A presença de um pai na vida de uma criança vai muito além do papel de provedor ou disciplinador. A figura paterna desempenha um papel crucial no desenvolvimento emocional, social e psicológico dos filhos, oferecendo uma perspectiva única que complementa a educação dada pela mãe. O pai, como figura masculina, traz para a criação dos filhos elementos fundamentais que ajudam a moldar identidades, valores e comportamentos.

Na adolescência, a influência do pai continua a ser vital. Durante essa fase crítica de transição para a vida adulta, o pai pode ajudar a guiar os filhos na construção de uma identidade sólida e de um senso de propósito. Ele atua como um conselheiro e um exemplo, ajudando a moldar a ética de trabalho, a moralidade e as ambições dos filhos. Para os meninos, ele continua a ser um modelo de masculinidade responsável, enquanto para as meninas, ele reafirma o valor do respeito e da igualdade nos relacionamentos.

Evidentemente, nem todos têm o privilégio de contar com um pai presente durante seu desenvolvimento pelos mais variados motivos. Desde homens que abandonam suas parceiras quando a gravidez é descoberta até casos de falecimento, são muitos os casos de crianças e jovens que não contam com o referencial de uma figura paterna. Claro que isso é muito triste!

Crescer é um processo repleto de descobertas, desafios e, inevitavelmente, decepções. Embora muitos pais desejem proteger seus filhos de qualquer dor, frustração ou sofrimento, é essencial reconhecer que essas experiências são partes inerentes do desenvolvimento humano. Ensinar as crianças a lidar com esses sentimentos não apenas as prepara para os desafios da vida adulta, mas também contribui para o seu crescimento emocional e psicológico.

Além disso, enfrentar sofrimentos e frustrações ajuda as crianças a desenvolverem autocontrole e regulação emocional. Elas aprendem que nem sempre podem ter o que querem ou controlar todas as situações, o que as ensina a aceitar e a se adaptar às circunstâncias. Essa habilidade de regulação é essencial para construir relacionamentos saudáveis e duradouros, pois ensina a importância da paciência, da compreensão e da comunicação aberta.

Em última análise, aprender a lidar com sofrimento e frustrações prepara as crianças para a realidade da vida adulta, onde desafios e decepções são inevitáveis. Ao invés de crescerem em uma bolha de proteção, elas se tornam indivíduos mais fortes, resilientes e capazes de navegar pelas complexidades da vida com confiança e coragem. Ensinar uma criança a enfrentar e superar dificuldades é, portanto, um dos maiores presentes que um adulto pode oferecer.

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