MURALHA DE LIVROS | Escravidão, desarmamento, psicologia e literatura

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Destaque para obra de um dos mais importantes abolicionistas do Brasil

Nos destaques desta edição da Muralha, uma impactante obra de um dos maiores abolicionistas da história do Brasil, e um importante registro histórico sobre o desarmamento promovidos pelos nazistas na Europa ocupada.

Ainda, uma importante obra sobre a psicologia da motivação, dois gigante da literatura e um volume para alfabetização dos pequenos com o esporte mais popular do país.

Confira os lançamentos a seguir, e um excelente final de semana!


Destaques

O grande destaque da semana é um lançamento da Edições Livre:  A escravidão, de Joaquim Nabuco.

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910) foi um diplomata, político, escritor, advogado, jornalista e orador brasileiro, considerado uma das figuras mais importantes do país no século XIX.
Nabuco deixou um legado duradouro para o Brasil. Sua luta incansável contra a escravidão, sua atuação diplomática de destaque e sua brilhante produção intelectual o colocaram entre as figuras mais importantes da história nacional. Sua obra e seus ideais continuam a inspirar gerações de brasileiros na busca por um país mais justo.

A escravidão é reconhecido como o primeiro manifesto abolicionista de nosso país, onde o autor traça a história da escravidão e a denuncia como um ato criminoso contra a humanidade. Escrito em 1870, quando Nabuco tinha apenas 21 anos e ainda cursava o quinto ano da faculdade de Direito, este ensaio permaneceu desconhecido ao longo de toda sua vida. Foi apenas em 1951, no número 204 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em comemoração ao centenário de nascimento de Nabuco em 1949, que a obra foi publicada pela primeira vez.

Leia a seguir alguns trechos memoráveis da obra:

“Quando o escravo nasce mandam-nos batizar: mas esse sacramento, que, na crença católica, os adquire para o Céu, é uma formalidade que só serve para inscrevê-los no rol dos escravos. Nunca lhe dizem o que esse sacramento significa: nunca lhe falam de seus deveres religiosos. A moral cristã é leite de que eles nunca provaram. Que vale pois esse batismo sem consequências, esse ato que abrange a extrema infância do pecado, porque não lhe ensinam a virtude, nem a redenção de opróbios, porque o deixa na infâmia do cativeiro?”

“A religião de Cristo não podia abençoar cativeiro algum. Mas o interesse tem tanta força que às vezes chega a falsear o sentimento, e quando se supõe argumentar convencido, argumenta-se interessado. Assim os proprietários chegam a reconhecer a legitimidade da escravidão, e desde Aristóteles, que fundou a diferença das raças, até os representantes da Carolina do Sul, que a chamaram de pedra angular da república e da liberdade, todos os motivos têm sido bons para dar ares de equidade a esse arbítrio vivo.”

“Antes de o escravo nascer, sofre na mãe. Desde as vísceras da mãe ele está condenado à sua sorte. […] As entranhas, que o geraram, figuram nos apontamentos do senhor comum, como uma máquina produtora: ele mesmo é intercalado entre lucros prováveis até o dia em que no batismo recebe um nome, que é um número de galé.”

O outro destaque é um lançamento da Vide: Desarmamento na França ocupada pelos nazistas, de Stephen Halbrook.

Neste livro, Halbrook retrata vividamente os anos terríveis da ocupação da França pelas forças armadas alemãs, especialmente do ponto de vista dos franceses proprietários de armas de fogo.

Ele demonstra que, embora o governo francês não pretendesse desarmar a população ao exigir o registro de armas, a própria existência dos cadastramentos possibilitou que os alemães, quando ocuparam o país durante a Segunda Guerra Mundial, intensificassem seu domínio sangrento sobre o país, perseguindo os proprietários de armas.

Fica mais do que claro como medidas de controle de armas, aparentemente inofensivas ou que aleguem mais segurança para a população, têm sempre como resultado inevitável a diminuição do poder do povo — especialmente o de salvaguardar a sua liberdade.

Confira abaixo um trecho da introdução do livro:

“A Alemanha nazista lançou sua bitzkrieg (‘guerra-relâmpago’) contra a França, a Bélgica e a Holanda em 10 de maio de 1940. Em todas as cidades ocupadas, os soldados de Wehrmacht imediatamente colocaram cartazes alertando que os civis que não entregassem suas armas de fogo dentro de 24 horas seriam baleados. A leu francesa antes da ocupação bania armas de ‘guerra’ e exigia que as armas de fogo fossem registradas. A exigência de registro foi decretada em 1935 pelo primeiro-ministro Pierre Laval. Após sua derrota em 1940, o governo francês assinou um armistício concordando em administrar a França ocupada em nome de Wehrmacht, as forças armadas alemãs. A polícia francesa poderia então identificar facilmente os cidadãos que tinham registrado suas armas de fogo. Laval voltou ao poder como o principal colaboracionista dos nazistas.”

Outros lançamentos

Pela Auster, Psicologia da motivação: teoria e ação terapêutica, de Paul Diel.

Nesta obra, o autor mergulha nas profundezas da psique humana, desvendando a complexa interação entre as experiências vividas e a formação da personalidade. Ele desafia os paradigmas da psicologia tradicional ao explorar como traumas enraizados, alimentados por motivações distorcidas, podem se manifestar em nossas vidas.

Longe de ser um mero exercício de autoanálise, a introspecção proposta por Diel se torna uma ferramenta poderosa para desmascarar as motivações falsas que residem em nosso interior. Essas motivações distorcidas, segundo o autor, são a raiz das doenças e distúrbios psicológicos.

Ao defender a importância de cultivarmos motivações autênticas e genuínas, Diel nos apresenta um caminho para alcançar o equilíbrio mental e a verdadeira realização pessoal.

Pela Sétimo Selo, A incredulidade do Padre Brown, de G.K. Chesterton.

Nos oito contos reunidos neste volume, vemos uma vez mais em ação a infalível intuição desse curioso e desajeitado padre. Para desvendar uma série de crimes que — entre milagres, oráculos, maldições e até ressurreições — aparentemente só podem ter uma explicação sobrenatural, Padre Brown terá de servir-se da própria “incredulidade” para desmascarar uma origem muito humana. Afinal, a função desse grande conhecedor das fraquezas e potencialidades do ser humano não consiste em “esconder mistérios”, mas antes revelá-los “em plena luz do dia”.

Pela UBIQ!, que estreia esta semana no mercado editorial, Histórias de terror, horror e mistério, que reúne 11 contos de Machado de Assis envolvendo histórias sombrias e intrigantes em que o Bruxo do Cosme Velho explora nossos medos mais profundos e nossas angústias mais íntimas.

Esta coletânea nos faz mergulhar num universo onde o sobrenatural se mistura com o cotidiano, e onde o inexplicável se torna parte da realidade – um livro que é uma viagem ao lado mais obscuro da imaginação de um mestre da literatura.

O volume ainda é enriquecido com a tradução (a primeira em língua portuguesa) feita por Machado de Assis do poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe.

Pela Texugo, mais um volume da coleção O nome das coisas: Futebol, em que Ulisses Trevisan e Gisele Daminelli apresentam aos pequenos que estão aprendendo a ler os nomes de dez coisas relativas ao esporte mais popular do Brasil e do mundo.


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