Destaque para lançamento de Natália Sulman sobre Platão pela Vide Editorial, e do resgate de um clássico infantil pelas hábeis mãos de Fábio Gonçalves
Os primeiros lançamentos de abril envolvem a poética de um titã da filosofia clássica e a de um gigante da teologia e da mística cristão. Entre eles, no meio do caminho, destaque para o resgate de um clássico da literatura infantil pelas mãos de um dos mais hábeis escritores da Nova Literatura Brasileira, uma obra sobre um psicólogo que se fez um dos colossos do pensamento cristão na atualidade, e um clássico da economia que, apesar de além de centenário, é mais inédito que nunca em um país com políticas econômicas sempre desastrosas.
Confira os títulos abaixo, e lembre-se: você está entre gigantes.
Destaques
O primeiro destaque da semana é da Vide Editorial, A poética de Platão: conteúdo e forma nos diálogos, de Natália Sulman. Neste livro, a professora Natália, dando especial atenção à República, propõe que consideremos a obra de Platão pelo mediante a forma como ele próprio exprimia suas ideias. O filósofo, para fazer inteligível seu pensamento sobre a imortalidade da alma, a justiça ou o próprio pensamento, por exemplo, ilustrava seus conceitos com imagens sensíveis, construídas poeticamente em seus diálogos, unindo filosofia e literatura em seus textos. Meditando sobre a unidade indivisível entre a sua forma e o seu conteúdo, a autora nos faze ver, em Platão, para além do grande filósofo, o poeta.
O livro é ainda apresentado pelo professor Rafael Nogueira. Confira abaixo um trecho dessa apresentação:
“Platão é muitas vezes lembrado como pensador abstrato, clássico defensor de que as ideias existem em um mundo próprio, mais real do que este, e mesmo quem teve a felicidade de lê-lo e entendê-lo pode teimar em manter ainda alguns preconceitos, como o de que ele era inimigo do mito, insensível à arte.
Acontece que o gênero literário que o imortalizou, o diálogo, é bem o oposto da abstração fugidia, da analítica pura: as ideias se encarnam em personagens que, por sua vez, mostram de que maneira a filosofia pode ser um modo de vida repleto de significado, consciente dos sofrimentos e sacrifícios vitais, das possibilidades trágicas de uma vida plenamente humana, e dos gozos que acompanham a busca e a posse do conhecimento. Além, claro, do deleite dos estetas.
Seus diálogos convidam o leitor a refletir. Exortam-no a se perguntar se ele próprio está lendo pelas razões corretas, se o faz ara desenvolver-se em moral e inteligência, ou por vaidade, fugo e erística (vencer o debate sem ter razão.”
O segundo destaque é um clássico da literatura infantil publicada pela Editora João e Maria, João e o pé e feijão, na versão de Fábio Gonçalves e com ilustrações de Giseli Daminelli. Autor do romance Milagre em Paraisópolis e do volume de contos O retrato doente, Fábio resolveu embrenhar-se nesta obra após alguns estudos e pesquisas que lhe apontaram como a história chegou aos nossos dias de maneira bastante corrompida em relação às suas versões mais antigas. Em sua adaptação, o autor resgata os valores da versão original, apresentando aos jovens leitores um protagonista audaz e imaginativo, que enfrentará grandes perigos para reaver as posses usurpadas de sua família e restabelecer a paz entre seu povo.
O volume leva os selos “PA” (ideal para leitura em voz alta a partir da pré-alfabetização) e “G” (ideal para a consolidação da leitura autônoma dos grandinhos). Confira abaixo um breve depoimento de Fábio Gonçalves sobre a motivação e o processo de adaptação do conto clássico:
“As versões mais modernas do conto sempre retrataram o protagonista, João, como um menino mais teimoso, indolente, preguiçoso, sempre com uma carga negativa, às vezes até dando-se a entender que ele fosse o culpado pela situação miserável em que sua família se encontrava. Fiquei encafifado com isso e fui pesquisar as versões mais tradicionais da história e me deparei com o contrário: João era retratado como um menino audaz, vivaz, curioso, fantasioso, e isso tudo devido à sua origem, pois ele era descendente de um nobre. João na verdade era filho de um cavaleiro que governava suas terras com equidade e justiça e coragem, e tudo isso na verdade estava latente no menino. E todo o conto, na verdade, gira em torno de uma ideia de destino, de vocação: João era aquele que estava marcado para ser que iria reaver as posses tomadas pelo gigante e, assim, restaurar a paz, a justiça e a prosperidade para suas terras, a começar pela sua própria família. Esse é o centro da história, que é deturpada ou mesmo apagada nas versões mais modernas. O propósito aqui foi de se fazer publicar uma adaptação mais próxima da narrativa original e resgatar o sentido da história. Vale ainda ressaltar que as ilustrações da Gisele engrandeceram e enobreceram este trabalho.”
Outros lançamentos
Pela Ecclesiae, Jordan Petterson, Deus e o cristianismo: em busca de uma vida com sentido, de Christopher Kaczor e Matthew R. Petrusek. O livro apresenta a primeira análise sistemática, desde uma perspectiva cristã, tanto da chamada “Série bíblica” de Peterson no YouTube quanto de seu best-seller 12 regras para a vida, e de sua sequência, Além da ordem. Tendo como ponto de partida o “cristianismo puro e simples” de C. S. Lewis, a obra é um proveitoso estudo não apenas para os cristãos que querem compreender melhor a significância do fenômeno Peterson, mas também para seus fãs que estão, talvez pela primeira vez em suas vidas, pensando seriamente sobre o que significa crer.
Pela Avis Rara, A lógica da economia: ensaios sobre mercado e as leis invisíveis que organizam a sociedade, de Frédéric Bastiat. Os quatro ensaios presentes em constituem uma espécie de manual de sobrevivência no Brasil, país onde a loucura econômica tem passado glorioso e futuro promissor. Embora tenham sido publicados há mais de 150 anos, nesta parte do mundo as ideias que eles refutam impiedosamente ainda são tão perniciosas quanto populares.
Retirando a economia do campos das abstrações mirabolantes, fórmulas matemáticas e conceitos mágicos, Bastiat a devolve ao concretismo da vida diária que todos padecemos. Ele expõe seus argumentos com exemplos corriqueiros e utilizando a linguagem clara, de modo a oferecer ao público não acadêmico, lições sobre as consequências invisíveis da imprudência econômica, o verdadeiro papel do Estado, a diferença entre o dinheiro e riqueza, a natureza do capital e a justiça dos juros.
Depois de ler A lógica da economia, o leitor poderá deduzir as consequências de cada nova medida econômica anunciada pelos governos – a fim de proteger seus projetos, negócios e investimentos. Então o debate econômico nacional lhe parecerá um teatro de absurdos, por ainda haver analistas e governo discutindo ideias desacreditadas há mais de 150 anos.
Pela Edições Livre, Posía de San Juan de la Cruz. Grande místico e fundador do Carmelo Descalço, São João da Cruz é também considerado um dos principais poetas da língua espanhola. Entre sua obra completa têm lugar de destaque seus poemas, tanto do ponto de vista estilístico formal quanto por seu rico simbolismo — a tal ponto que suas composições teológicas são majoritariamente comentários sobre sua poesia. No cárcere, em meio a sofrimentos atrozes, a alma de João viveu e expressou de modo singularmente belo a realidade da noite escura da alma, e do desponsório entre ela e seu Criador.