O Pai Fundador dos EUA é um exemplo perfeito do poder da disciplina no âmbito da vida prática
No dia 17 de janeiro de 1706, na gélida Boston, nasceu Benjamin Franklin, o estadista que, pelo talento, criou um novo paradigma para o homem de Estado. Franklin é um dos expoentes da cultura do Do it yourself, gênese de grande parte dos talentos na Era Moderna.
Não é exagero dizer que o homem fora a personificação do talento: ainda bastante jovem assimilou os conceitos fundamentais do empreendedorismo e, como sócio do seu irmão, fundou um jornal na Philadelphia para o qual passou a escrever assiduamente. Sua sagacidade, assim como o seu talento, foram imediatamente reconhecidos; os leitores do seu periódico, segundo as crônicas da época, deleitavam-se com os aforismos que saíam da pena do jovem Benjamin.
Ele fora talvez o primeiro autor best-seller dos Estados Unidos. Com o seu Almanaque do Pobre Ricardo (Poor Richard’s Almanac), Franklin levou o estilo dos seus aforismos a um patamar superior, consagrando-se como um dos fundadores também da literatura americana.
A melhor fórmula para descrever quem fora B. Franklin é o autodidatismo. Antes de atrair a atenção do incipiente governo americano, ele conquistou o público das treze colônias com o seu gênio inventivo: apresentou o primeiro protótipo do para-raios, inventou um sistema de aquecimento mais eficiente do que as lareiras da época, apresentou propostas para o calçamento das vias públicas da Philadelphia, criou a primeira biblioteca pública dos EUA… A lista é longa, é necessário consultar suas biografias a fim de não omitir, dada a quantidade, alguma de suas realizações.
No âmbito da política, Franklin fora uma espécie de ponte entre os literatos que discutiam — em público ou nas reuniões privadas da Maçonaria — a formação dos Estados Unidos e os literatos europeus. A Retórica e a Diplomacia estavam também sob a abrangência do seu talento; Franklin valeu-se da sua capacidade de enxadrista exímio para estabelecer os laços necessários entre os pensadores “iluminados” dos dois lados do Atlântico — com ganhos significativos para os do Novo Mundo.
À época em que Franklin viveu, o século das luzes, o Estado não detinha ainda os meios — mormente os de ordem técnica e psicológica — para engendrar mudanças profundas na sociedade. Ipso facto, o século XVIII fora o período na História em que os mais sofisticados — e antiéticos — projetos de mudanças sociais a fim de estabelecer a sociedade perfeita, desprovida das amarras da religião, foram discutidos sem o receio de colher os seus frutos amargos na prática. Benjamin Franklin, como ele mesmo atesta na sua autobiografia, era membro ativo e operante nesses grupos de discussão, um hábil orador que transitava entre a elite intelectual de sua época portando carta branca.
Para nós, meros leitores, a vida de Benjamin Franklin — a parte que, pelo esforço da investigação biográfica, tornou-se pública — tem de fato um valor objetivo: sua vida é uma mostra do poder da Disciplina. É conhecido os relatos do próprio Franklin acerca de seu projeto de aperfeiçoamento moral. Durante um período de sua vida, ele manteve uma espécie de planilha na qual anotava os vícios suprimidos e as virtudes alcançadas; ele nomeava os seus vícios e estimava o tempo necessário para livrar-se deles.
Com informações de Franklin, Benjamin, Autobiografia, Auster Editora, tradução de Bruno Alexander e Thomaz Perroni, Campinas, SP, 2019.
“As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo”.
— Benjamin Franklin
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