ENTREVISTA | Conhece o Mário?

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Elvis Amsterdã fala sobre seu livro Vida e obra de Mário Ferreira dos Santos, lançado pela Danúbio

A Editora Danúbio lançou nesta semana seu presente de Natal aos brasileiros, o livro Vida e obra de Mário Ferreira dos Santos, do professor Elvis Amsterdã.

A obra, uma adaptação da dissertação de Mestrado defendida por Elvis Amsterdã em 2019, pela UFSC, é resultado de 23 anos de estudos a respeito daquele que é considerado por Olavo de Carvalho como o maior nome do pensamento brasileiro, porém hoje não tão conhecido ou lido. Acompanhe, então a entrevista abaixo e, se você ainda não conhece o Mário, eis uma introdução e tanto à sua obra. E, se já o conhece, certamente há de concordar com Silvio Grimaldo:


Revista Esmeril: Há quanto tempo você estuda a vida e a obra de Mário Ferreira dos Santos? O que te fez se interessar por ele?

Elvis Amsterdã:  Estudo o Mário Ferreira dos Santos há 23 anos, desde a época em que cursava Filosofia na Universidade Federal do Maranhão, em São Luís. Vi nas mãos de um colega de curso o Origem dos Grandes Erros Filosóficos: Erros Crítico-Ontológicos, achei o título apoteótico e lhe perguntei:

− É bom?

− É, mas esse cara critica todo mundo…

Era o de que eu precisava aos 18 anos: um filósofo que criticasse quem criticava todo mundo, uma filosofia que devolvesse à acidez dos críticos algo como a origem de seus erros. Procurei-o na biblioteca e descobri depois que o Mário tinha escrito em torno de 100 obras.

Durante o mesmo período, um amigo me sugeriu a leitura de um livro cujo subtítulo era A Longa Marcha da Vaca para o brejo ou os Filhos da PUC. Achei um sarro e uma delícia. Li o Imbecil Coletivo II e depois comprei do mesmo autor O Futuro do Pensamento Brasileiro.

Quase que simultaneamente descobri o Olavo de Carvalho e o Mário Ferreira dos Santos e vi que, para o Olavo, o Mário era a maior contribuição do pensamento nacional.

Aproveitei a disciplina de História da Filosofia do Brasil e fiz um trabalho sobre a filosofia concreta, para o qual a professora me deu nota máxima. Resolvi posteriormente escrever a monografia de conclusão de curso sobre sua axiomática e, bem depois, uma dissertação de Mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, período durante o qual apresentei o Mário Ferreira dos Santos num congresso internacional de Filosofia organizado pela Sociedade Portuguesa de Filosofia, em Covilhã – Portugal.

Porém, por mais que eu o leia e o medite por conta própria há bastante tempo, nunca nesta vida ou em duzentas vidas eu o compreenderia devidamente sem os estudos do Professor Olavo de Carvalho, sobretudo sua introdução ao A Sabedoria das Leis Eternas.

Revista Esmeril: Como foi o processo de escrita de seu livro, e como ele está organizado?

Elvis Amsterdã: Como disse, escrevi uma dissertação de Mestrado sobre o Mário Ferreira dos Santos. Meu livro é o resultado dos meus estudos expostos nessa dissertação, porém, a redação do livro é totalmente nova. Não é algo para ser lido por uma banca de universidade, mas por um leitor que ame o Brasil e ame suas melhores possibilidades.

Assim, o livro é uma tentativa de relacionar a vida e a obra, ainda que o próprio Mário Ferreira ficasse imperceptível por trás de seus livros. Para mim, não. Eu quero que ele apareça com todo o esplendor de sua personalidade. Mário Ferreira que me desculpe, mas ele não era apenas os cem livros. Somente uma personalidade radicalmente madura, desafiadora, dialecticamente brasileira e trans-brasileira poderia escrever Filosofia Concreta, Análise Dialéctica do Marxismo e Noologia Geral.

O meu Mário Ferreira é uma pessoa de verdade, um brasileiro de verdade, com mulher e filhas, com fotos no fusca, em Serra Negra e na Torre Eiffel, com um charutão na boca e foto de alistamento militar; não é uma caricatura, uma imagem que parece um sapo-boi, como fazem por aí, mas um homem elegante, nobre e que vai pra porrada, quando necessário se faz, como num episódio que seu sobrinho Joaquim me contou.

Meu processo de escrita levou isso em conta e, afora as muitas divisões que meu livro possa conter, uma divisão eu não faço: vida e obra.

Revista Esmeril: Qual a importância de Mário Ferreira dos Santos para o Brasil? Ele é devidamente reconhecido?

Elvis Amsterdã: Olavo afirma que o Mário é a maior contribuição do pensamento nacional. Então, levando isso em conta, é ouro em pó, diamante. Mário Ferreira dos Santos é nossa passagem de volta para a Grécia e nossa passagem para um Portugal que mesmo os portugueses não conhecem, mas também é o ingresso para o futuro; ele é a combinação dos pontos mais altos da Filosofia e, enquanto nosso pedagogo do porvir, poderá nos conduzir por caminhos sólidos e determinantes.

O problema até aqui é que o Mário vendeu mais de 1 milhão de cópias, mas não teve alunos de verdade. Um grande filósofo precisa de grandes discípulos. São esses que têm de reconhecê-lo por primeiro.

Revista Esmeril: Para finalizar, fale um pouco sobre as questões espirituais da obra de Mário Ferreira dos Santos. Por que você o chama, em seu livro, de “Discípulo de São Francisco Xavier”?

Elvis Amsterdã:  Parece uma provocação, mas não é, eu prometo.

É que há muitos grupos conservadores especializados em descanonização – metem no inferno o Papa São João Paulo II, São José Maria Escrivá e outros mais… sem nenhum pejo, sem dó nem piedade.

Outro dia, não faz uma semana, uma senhora me procurou para ter aulas particulares comigo, mas desistiu, porque ela descobriu que gosto do poeta cearense Gerardo Mello Mourão, que concorreu ao Nobel de Literatura, estudou com os padres Redentoristas e escreveu sobre São Gerardo Majella,  O bêbado de Deus. Porém, a senhora me dispensou porque descobriu que o poeta Gerardo pecou depois de sair do seminário e ela me disse que não queria ter nenhum contato com qualquer sombra de modernismo. Ainda que ela não precisasse estudar comigo o Gerardo, ela queria um professor puro, um bezerro de ouro que pode ser lambido na Fraternidade de São Pio X.

Ora, o Mário Ferreira dos Santos é a expressão da “impureza”, da busca da verdade sem frescuras, do impulso verdadeiramente radical e apaixonado pela verdade. Ele pode ter errado, como todos erramos, mas não foi por delicadeza. Assim, ele bebe em Pitágoras, Platão, Aristóteles, Proudhon, Nietzsche, Santo Tomás, Santo Agostinho, Duns Scot, Pedro da Fonseca, Pedro Hispano, Suárez e muito mais.

E, quando sua fé fraquejou, ele o afirma: agarrou-se à barra da saia da Virgem Puríssima e a São Francisco Xavier e, pelo Apóstolo das Gentes, pôde visitar a obra dos gentios sem se afastar dos jesuítas. Ele fala nisso num áudio inédito em que cita e recita um poema atribuído a São Francisco Xavier.

Santo Tomás, se estivesse aqui, não poderia celebrar missa na taba dos limpos e puros, porque citava Avicena e um pagão chamado Aristóteles. Mário Ferreira dos Santos, graças a Deus!, mantém-se perfeitamente brasileiro – como expressamos em nossa própria carne, cor, capacidade de sofrer e pensar −, perfeitamente dialéctico, o húmus que aproveita o que há de melhor em todas as sementes, a terra em que em se plantando tudo dá.

4 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Abertos

Últimos do Autor