Saiba como a festa maior Cristã chegou a ser banida pelos Puritanos e resgatada no fim da breve República inglesa
Londres, 1647.
No limiar da segunda Guerra Civil inglesa – que culminaria quatro anos mais tarde com o triunfo do Parlamento – uma batalha distinta se instalava pelas ruas da capital britânica: a da luta pela celebração do Natal.
Enquanto parlamentares (e Puritanos) publicavam, em tradução livre, o chamado ‘Diretório para a Adoração Pública de Deus’, omitindo de forma proposital a festa natalina, os defensores do (dois anos mais tarde decapitado) Rei Carlos I tentavam salvar o que restava do clássico cerimonial.
O cerne do problema estava na Nova Ordem determinada durante a era do Lorde Protetor Oliver Cromwell. Em 1647, o simples ato de comemorar o nascimento de Jesus como fazemos hoje foi considerado pelos novos mandatários um crime gravíssimo contra Deus.
A Guerra das Ameixas
No olhar dos Puritanos, o 25 de Dezembro era uma efeméride desprezada, pecaminosa, imoral, corrupta e não-Cristã. Uma verdadeira esbórnia. Entre os deslizes apontados como gravíssimos estava a bebedeira praticada pelos católicos – e isso foi como uma última gota de rum para Cromwell extinguir os banquetes do calendário Inglês.

Logo, e para a surpresa de ninguém, o ato de censura não foi acatado sem resistência.
Opositores ao novo regime e defensores do Absolutismo decidiram mostrar que venderiam caro o banimento do Natal. Um desses “símbolos de rebeldia” – acredite – foi um mero pudim de ameixa. A tradicional iguaria inglesa, oriunda da Dinastia Tudor (1485-1603), não escapou da degola porque seu sabor era considerado “o primeiro passo para o pecado da gula”.
E não, não ficou apenas no doce. Para derrubar de vez a tradição do feriado, as casas de comércio agora deveriam operar normalmente, sem trégua. Nem mesmo as então sagradas Missas do Galo estavam permitidas.
Dito isso, rebeldes londrinos – além de moradores de Canterbury, Norwich e Ipswich – saíram às ruas para combater o que o novo governo considerava excesso. O levante ficou conhecido como Plum Pudding Riots – ou As Revoltas do Pudim de Ameixa.
O Retorno do Natal
Dois anos após os movimentos populares regados à calda de fruta, Inglaterra, País de Gales, Irlanda e Escócia viriam a compor a estrutura política conhecida como The Commonwealth. Nesse período, entre 1649 e 1660, os britânicos experimentaram os prós e contras da república, tendo Lorde Oliver Cromwell, como chefe de estado.
Após sua morte, em 1658, o cargo ficou com seu filho Richard Cromwell, que ocuparia a pasta apenas por nove meses, até sua eventual renúncia.
Em 1660, os habitantes da Ilha seriam submetidos ao regime conhecido como Restauração. Em outras palavras, o marco representou a volta da Monarquia e da Casa dos Stuart, da Escócia, representada pelo Rei Carlos II – filho mais velho do então deposto Carlos I e de Henrietta Maria, da França.
A ascensão do monarca da Inglaterra, Escócia e Irlanda também determinou o resgate das festas natalinas como conhecemos. Não que elas tivessem sumido por completo durante a República. Nos porões escuros ingleses, a tradição ainda era mantida, sem que os soldados de Cromwell notassem.
Porém, com o retorno do Rei, a celebração da festa mais popular da tradição cristã finalmente voltou aos lares e às ruas da Grã-Bretanha de forma oficial, assim como o período chamado pelos ingleses de Doze dias de Natal.