O talentoso expoente da Nova Literatura Brasileira Tiago Amorim lançou na semana passada seu segundo livro, o volume de contos Verdades e mentiras, editado pela Danúbio.
O livro reúne 14 narrativas em que o leitor será capaz de sentir o peso das decisões irreversíveis de cada personagem, como uma mulher precisa esconder seus sentimentos durante o velório de um homem muito amado, ou uma senhora que é vítima de um crime violento e sua filha faz terríveis descobertas, ou um jovem casal que estabelece um acordo sexual atípico, e que precisa enfrentar as consequências.
Tiago Amorim tem grande percepção psicológica e demonstra uma habilidade extraordinária em capturar os dramas cotidianos da classe média urbana. Seu estilo é elegante e seguro, conforme à nossa melhor tradição literária. Com a publicação deste Verdades e Mentiras, o autor se impõe como um dos mais notáveis talentos da literatura brasileira contemporânea.
Saiba mais sobre o livro e o autor na entrevista a seguir, e fique atento: Tiago tem mais ótimos materiais que ainda vêm por aí.
Revista Esmeril: Fale um pouco sobre seu novo livro.
Tiago Amorim: É meu segundo livro de contos, escrito entre 2022 e 2024. As histórias foram surgindo ao longo desse período, algumas delas inspiradas em coisas que ouvi. De alguma maneira, são histórias de incerteza, medo, conflitos amorosos, a ignorância pessoal dos fatos, as fronteiras entre o real e o imaginado – até mesmo um temor em relação à eternidade.
Revista Esmeril: Por que o título “Verdades e mentiras”?
Tiago Amorim: Uma música do Geraldo Azevedo, Quando fevereiro chegar, tem esse verso, verdades e mentiras. Além de gostar da canção, sempre gostei do verso (a sonoridade das palavras, principalmente). Então, quando estava pensando num título para esse novo livro, só me vinha à cabeça a música do Geraldo – e achei que funcionava muito bem como título deste livro especificamente, haja vista o tema de alguns dos contos, o drama da insegurança e da incerteza existencial, o desejo íntimo de encontrar a verdade etc.
Revista Esmeril: Como foi o processo de escrita de seus contos?
Tiago Amorim: Intermitente. Não sou um escritor disciplinado e, até pouco tempo atrás (terminei de escrever uma novela recentemente), nunca tinha escrito por mais de uma semana seguida. Só pego meu computador para contar uma história quando ela já está na minha cabeça há bastante tempo, como se batendo na minha mente e exigindo uma forma escrita.
Uma curiosidade a respeito desse novo livro: pus entre os textos o primeiro conto que escrevi depois de adulto, por volta de 2015.
Revista Esmeril: Quais são suas principais referências e influências literárias?
Tiago Amorim: Tenho algumas admirações, e são as mesmas há pelo menos cinco anos. Então, eu poderia dizer que esses autores me inspiram (não quer dizer que me influenciem, pois quero acreditar que faço algo diferente como escritor). Posso citar Murakami, Clarice Lispector, Starnone e Elena Ferrante.
Revista Esmeril: Você mencionou que acabou de finalizar uma novela. Pode dar mais detalhes sobre ela, ou de outros projetos que tenha em mente?
Tiago Amorim: Eu tenho uma personagem preferida: Lorena. Ela apareceu no meu primeiro livro de contos, lançado em 2021. Recebi muitos comentários a respeito dessa história, e vários leitores me pediram para escrever mais contos com essa protagonista. Então eu voltei alguns anos na história dele e escrevi o conto “Antes”, presente em Verdades e Mentiras. O editor Diogo Fontana leu a história e disse algo parecido: isso merece continuidade, talvez um livro à parte. Era o incentivo que me faltava. Em dois meses escrevi a novela, portanto uma obra inteira dedicada à vida de Lorena e, nesse caso, aos meses que se sucedem à morte do marido. Logo no início da novela um segredo do marido morto é revelado e isso dá boa parte do tom da história.
Revista Esmeril: Enquanto membro de uma nova geração de escritores brasileiros, como você avalia o cenário literário brasieliro atual?
Tiago Amorim: Só não é terra devastada por causa dos meus amigos. Vou citar só dois deles: Alexandre Soares Silva e João Filho. A literatura brasileira atual se resume a um grupo de WhatsApp, do qual faço parte.