SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Voto Feminino e o “Pai-de-Família”: breve introdução ao debate

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

O voto é um dever. Esse fardo passou a recair às mulheres do Brasil em 1932.


Não publiquei na semana passada. Era para ser um texto sobre o Supremo, mas não consegui achar um tom que me agradasse. Peço desculpas. Hoje introduzo a questão do voto feminino. O debate sobre esse tema esconde pontos mais profundos e importantes.


Terça-Feira, 03 de Sextubro de 525

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui.]

Na semana passada, o Ministro da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth (pi ré-sé), compartilhou vídeo de uma entrevista de um pastor cristão à CNN americana. O ministro apenas tuitou: “Tudo de Cristo para Tudo da Vida” (“All of Christ for All of Life”). Foi um alvoroço na mídia tradicional. Agora, foi matéria da Folha de São Paulo.

De todas as polêmicas, vou me ater à da manchete da Folha: o voto feminino. No vídeo, “diversos pastores cristãos afirmam que mulheres não devem ter direito ao voto”. Apesar de isso ser verdade, a questão não é tão simples quanto parece. O pastor-chefe, Doug Wilson (dôgu ílson), por exemplo, classifica a mulher como “diretora-executiva do lar”. Não se trata, pois, de um menosprezo às fêmeas.

Reduzir a questão a uma vedação ao voto feminino é perder contato com o argumento. O ponto principal é outro. Aquilo que os líderes dessa comunidade religiosa defendem é um retorno ao princípio de “um voto por lar”. A isso, eles acrescentam que o voto deveria ser do “pai-de-família”.

Esse acréscimo, no entanto, é secundário. Só faz sentido no contexto de a representação política ser familiar; não, individual. Na mesma medida em que a chefia-de-estado de um país monárquico pode ser exercida por uma mulher, a “chefia-de-família” não precisaria ser uma exclusividade masculina. Afinal, se há lares matriarcais, seria até lógico que a representação dessas fosse feminina. Outrossim, onde houvesse diarquia, essa poderia ser exercida por quaisquer dos cônjuges.

A questão aqui é se a representação por lar seria melhor do que a representação individual. O debate é interessante e não sem valor. É impossível fazê-lo sem tratar de questões como a obrigatoriedade do voto, a autossuficiência do eleitor, e a definição de “lar”. Nenhuma dessas são irrelevantes, ainda que ao final possa se concluir que o nosso atual arranjo é melhor.

Tratarei desses pontos em outras colunas. Até a próxima semana.

P.S.: Sobre as polêmicas políticas atuais, só o que posso afirmar é que de tédio não morreremos. Há muita coisa acontecendo no mundo e no Brasil, e, no curto prazo, não enxergo nada de muito alvissareiro. O fato de a História já ter registrado momentos piores não é lá uma baita notícia. Porém, tampouco creio haver razão para desespero. Não podemos ignorar as circunstâncias, mas não vejo o Brasil virando uma Venezuela – nem a Argentina virou. Então, apesar de atenção e cautela serem importantes, não há motivo para ansiedade. Como bem lembrou a Bruna Torlay recentemente, a melhor maneira de se encarar problemas políticos é estando bem espiritualmente.

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