Ele tinha 29 anos. Tratava-se de um rapaz talentoso, inteligentíssimo, carismático, e popular. Não havia se tornado o grande campeão de xadrez que sonhara quando criança, porém havia alcançado o estado de celebridade no microcosmos do esporte. Mudara-se da Califórnia para a Carolina do Norte para tocar um clube de xadrez, tinha canais no YouTube e no Twitch, comentava regularmente grandes torneios, e até virara colunista do New York Times.
Ainda assim, Daniel Naroditsky foi encontrado morto no sofá de casa na última segunda-feira. Não há confirmação de suicídio. Ninguém fala, mas as reações públicas de quem o conhecia apontam para isso. Seu último vídeo no YouTube, postado no sábado após um mês em silêncio, tem um título morbidamente irônico: “¡¿Pensaste que eu me fôra?!” Ele ainda abre o vídeo dizendo: “Pensaste que eu me fôra para sempre, mas estou de volta melhor do que nunca”. Dois dias depois, ele realmente se foi para sempre.
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Não surpreende, pois, que a notícia tenha caído como uma bomba – mesmo para aqueles que tiveram contato com ele tão somente através de sua persona pública. Para alguém que está com dificuldade de publicar e cuja autoestima – que nunca foi lá grandes coisas – se encontra mais baixa do que o normal, a notícia calou ainda mais fundo.
Admito, a escuridão na minha alma é vasta; além da margem do saudável. Não lido com isso de maneira apropriada. Danya, aos 29 anos, não conseguiu vencer os seus demônios. À beira de completar 45 anos, ¿o que me leva a seguir tendo vantagem sobre os meus? ¿E se eu fosse testado como Jó, o que aconteceria comigo? Essas perguntas vêm me atormentando desde então. O tema é tão delicado que escrever este artigo foi extremamente árduo.
Para mim, parte das respostas encontra-se nos dois principais mandamentos cristãos: (I) amar a Deus sobre todas as coisas; e (II) amar o próximo como a si mesmo. [Mt 22:36-40] O problema para mim está na medida do amor sui, do “amor-próprio”. Em contraste com o amor Dei, o “amor a Deus”, é até fácil compreendê-la: não posso me amar mais do que amo a Deus. Até aqui, é tranqüilo.
O segundo mandamento, contudo, apenas demanda uma igualdade. Porém, ¿o que fazer quando a pessoa não se ama o suficiente? O mandamento não responde essa questão diretamente. Assim, para efetivamente poder cumpri-lo, somos obrigados a ir além dele e aprender a amar-nos devidamente.
Depois de dias tentando decifrar como enfrentar esse dilema, me lembrei de postagem de um amigo que casualmente apareceu para mim há uns seis anos no Facebook. Trata-se de um trecho de sermão o qual sintetiza a resposta – a qual, no fundo, eu sei, mas teimo em olvidar:
“Imaginai tudo de glorioso que Deus criou. Qualquer coisa que sinceramente amais – sejam os rios, as florestas, as montanhas… Então, entendei isto. Após tudo o que Deus criou, Ele ainda não estava satisfeito. Afinal, Ele ainda precisou de cada um de vós.” (Pe. David Reamsnyder, 2019)
É só isso; a mais pura e simples verdade.
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Descansa em paz, Danya. Não vieste ao mundo em vão. Obrigado pelas aulas.
Um texto tão bonito quanto triste, merecia ser mais que um artigo…