SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | FRA & GBR: uma história de duas eleições

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Quiçá, a nossa Direita tenha algo a aprender com o que agora se passa na Europa


Eleições na França e no Reino Unido estão na reta final. Faço um apanhado do que está acontecendo por lá. Politicagem, eu sei, mas ¿quem não gosta de politicagem? Não é lá tão importante, mas é divertida e talvez seja até pedagógica.
Estarei de pai solteiro de um dos filhos pelas próximas semanas, pelo que não sei se consigo fazer os vídeos. Os textos, porém, seguirão saindo.


Terça-Feira, 10 de Quintubro de 524

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui.]

O primeiro turno das eleições legislativas na França foi neste domingo. Na quinta-feira, teremos os pleitos para a Câmara dos Comuns no Reino Unido. Finalmente, no domingo, os franceses votam no segundo turno.

Os países não poderiam estar indo em caminhos mais díspares. É verdade que tudo indica crescimento da Nova Direita tanto na França quanto na Inglaterra, mas as circunstâncias políticas diferentes fazem com que os resultados tendam a ser distintos.

O sistema eleitoral é para a Assembleia Nacional (FRA) e para a Câmara dos Comuns (GBR) é semelhante. Ambos adotam o ‘distrital simples’. Portanto, grosso modo, cada assento representa um distrito de tamanho relativamente equivalente, e o candidato mais votado no distrito é eleito como seu representante.

No entanto, na França, a decisão é em dois turnos; no Reino Unido, em turno único. Isso por si já altera a dinâmica eleitoral. Porém, há outros fatores em ação.

A França já está num processo de reestruturação política desde 2017. Os partidos tradicionais de Esquerda (Socialista) e de Direita (Republicanos) praticamente desapareceram. Hoje há 3 forças. O governo (Renascimento) encontra-se sanduichado entre uma oposição de Esquerda [formada por uma coalizão de partidos menores, incluindo o Socialista] e uma oposição de Direita [desde a ascensão da Nova Direita, representada pelo Reunião Nacional].

O Reino Unido está testemunhando agora o início de um processo semelhante. Após o Brexit e um governo de quase 15 anos do Conservadores, o eleitor britânico está prestes a tornar irrelevante o partido representativo da Direita britânica há quase 200 anos. No entanto, fazem isso concedendo uma vitória avassaladora ao tradicional partido da Esquerda desde a década de 1920: o Trabalhista.

FRANÇA

A composição da Assembleia Nacional só será conhecida após o Segundo Turno. É difícil projetar as cadeiras, pois nunca tantos distritos tiveram mais de dois candidatos classificados para o novo pleito. As disputas têm sido equilibradas entre as forças políticas, apesar de a Nova Direita ter terminado na frente na maioria dos distritos no Primeiro Turno.

Desta vez, é grande a incerteza sobre a transferência de votos. Em caso de desistência de um dos candidatos em favor de outro, os votos podem muito bem passarem àquele cuja vitória se quer evitar. Para piorar, há um tempo exíguo para tomada de decisões sobre o que fazer.

É possível que não se consiga uma maioria parlamentar, seja pelo Reunião Nacional sozinho ou pela coalizão do atual governo com os deputados da Esquerda. Nesse caso, haveria um governo minoritário no mínimo pelos próximos 12 meses.

De certo, mesmo, é partido de Macron sair enfraquecido. Contudo, o presidente pessoalmente pode sair fortalecido. Talvez para ele o pior cenário seja a “co-habitação”, com o Reunião Nacional tendo o primeiro-ministro. Qualquer outro, todavia, lhe seria favorável; pois o legislativo não teria forças para servir-lhe de contrapeso.

O cenário político francês, hoje, tende a uma reaproximação do Renascimento com as correntes da Esquerda mais favoráveis à União Européia – buscando formar uma força política capaz de representar a maior parte do eleitorado esquerdista. Por outro lado, o Reunião Nacional parece ter-se consolidado de vez como representante da Direita.

REINO UNIDO

Na Grã-Bretanha, o Conservadores só tem a si mesmo para culpar pelo que vem passando. O partido no fundo nunca entendeu ou nunca abraçou completamente o Brexit. Nas últimas eleições, foi atrás de um eleitorado que não lhe era tradicional e foi incapaz de retê-lo. Esse movimento também alienou parte de sua base, a qual era mais europeia.

Para agravar, o desgaste de 14 anos de governo também pesa. Nisso inclui-se o fracasso na saída da União Européia, em que o próprio partido boicotou as negociações e as reformas necessárias. Boris Johnson parecia alguém que iria salvar o partido de si mesmo, mas provou-se equivalente um João Dória inglês.

Assim, tal qual o P.S.D.B. por aqui, o partido acabou ficando sem eleitores. Esse eleitorado perdido migrou seja de volta ao Trabalhista, seja passando para a Nova Direita (Reforma R.U.) ou para o pró-Europa Liberais-Democratas (herdeiro do antigo partido Whig). A tendência é que o Trabalhista forme uma maioria absurda; e, pior, que o Liberais-Democratas se torne a principal oposição ao novo governo.

Nesse cenário, a saída para a Direita talvez seja uma fusão entre o Conservadores e o Reforma. Para isso, as lideranças precisam abandonar a desconfiança e o nojo mútuos. No momento, isso parece ser algo distante de acontecer.

¿E aí? ¿Há o que a Direita brasileira possa aprender do que está acontecendo na França e na Grã-Bretanha? Se há, o quê? Deixa os teus comentários abaixo.

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