David Walsh: meu professor de Política na Universidade Católica da América (C.U.A.)
Nesta semana, completo uma trilogia involuntária. Desta vez, comento uma entrevista do cientista político David Walsh (Universidade Católica da América) ao noticiário “Religión em Libertad”. Fui aluno do Walsh quando estudei nos Estados Unidos. Recentemente, ainda tive oportunidade de assistir uma conversa com ele realizada pela “Brazil Law & Liberty Society”. Entendo o pensamento dele prover um excelente fechamento ao que eu escrevera nas semanas anteriores.
Terça-Feira, 17 de Quintubro de 525
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O elo entre esta coluna com aquelas da semana passada e da semana retrasada é essa sensação de crise política que experimentamos – não apenas no Brasil – e suas causas. Casualmente, apareceu para mim entrevista recente de um antigo professor meu tratando de tais temas. Me senti obrigado em comentá-la. [Nota: todas as citações transcritas abaixo são traduções minhas do castelhano.]
Logo no começo, David Walsh faz uma afirmação aparentemente de encontro com o senso comum: “me custa aceitar que estejamos vivendo uma crise da democracia.” Retomando ponto que fizera no livro After Ideology (1995), ele nega a própria existência de crise. Para Walsh, o que se entende por “crise” é apenas uma sensação decorrente de um fenômeno natural da realidade política.
“Não há um ponto de repouso no qual digamos: ‘superamos a crise’“. Essa situação é invariável. Porém, “crise”, por definição, seria algo necessariamente acidental e temporário; que demanda algum tipo de resolução. Se, por um lado, “a democracia, por natureza, está sempre em crise”, mas, por outro lado, é logicamente impossível estar-se “sempre em crise”, a única conclusão possível é a de não haver crise.
A conclusão, no entanto, é insatisfatória. Afinal, a sensação permanece conosco. Se não há crise, ¿por que então nos sentimos como se estivéssemos numa? Walsh explica que o erro está na premissa. Tratamos a tensão política, constante, como se essa fosse a “crise” e concluímos equivocadamente de que a democracia está em risco por causa dessa.
A fonte da crise está no que nos levou ao erro na premissa. “Não basta contar votos: é mister cuidar a alma da democracia.” Queremos ser democráticos, ao mesmo tempo em que desejamos evitar as condições do jogo político numa democracia. “Depois da Guerra Fria, muitos acreditaram que a história terminara. Nos ilusionamos pensando que podíamos sair de férias. Porém, a história não dá trégua.” Enfim, a bola está sempre em jogo, e nenhum gol é capaz de decidir a partida.
O problema é de foco. A democracia pode não estar em crise, mas ainda há uma crise. Não percebemos qual é por não olharmos para o lado certo. A raiz da questão está justamente na ilusão de que a disputa terminara. “A verdadeira preocupação atual não é política, senão moral. O que muitos percebem como uma crise da democracia é, no fundo, um fracasso das elites; uma ausência de líderes que falem com claridade sobre o que é justo, bom, e verdadeiro. E isso é uma crise d’alma; não, do sistema.”
A crise da alma nos afasta das causas reais. Apenas uma elite dirigente à altura do desafio de restaurar o nosso contato com o bem comum é capaz de enfrentar o problema. Essa é a crise que vivemos. Nessa conjuntura, a tecnologia acabou por se tornar um agravante. “As redes sociais, por exemplo, prometeram unir-nos, mas… Facebook não gera comunidade, gera comparação. São redes anti-sociais.”
Porém, Walsh crê sempre haver uma saída. “Nada substitui o contato humano… A amizade, a presença, o gesto de acompanhar o outro… aí é onde ocorre a verdadeira compreensão.” Esse é o caminho para a restauração da alma. “Por isso prefiro falar de democracia liberal, que põe o foco na liberdade e na dignidade pessoal.” Nesse sistema, não se pode repassar a responsabilidade. A elite será o que nós fazemos dessa. Todos nós somos parte do problema e, até por isso, também somos parte da solução.
Muito bom o artigo, mas esse raciocínio é conclusão também não se aplicaria a outros sistemas de governo?
Sim, mas regimes (verdadeiramente) democráticos teriam essa característica de serem aparentemente instáveis. Noutros sistemas, essa instabilidade seria algo perturbador, que coloca em risco toda a ordem social. No caso da democracia, isso lhe seria inerente. ¿Percebes a diferença?