FILOSOFIA INTEGRAL | O Papel da Inteligência

Nós somos máquinas de colheita e interpretação de dados. Nossa constituição biológica foi feita para absorver as informações emitidas pelos objetos e fenômenos e traduzi-las.

No entanto, o que colhemos não são as coisas mesmas, em sua inteireza, mas apenas os dados delas que nos estão disponíveis. Por exemplo, se eu vejo um livro em cima da mesa, com a capa virada para baixo, posso até saber que se trata de um livro, mas não seu autor e seu título; ou seja, não assimilei a informação completa sobre aquele objeto, porque nem todas as informações sobre ele estavam disponíveis para mim. Somente quando o tomo em minhas mãos é que sei quem o escreveu e o nome dado à obra.

Isso acontece porque nossa percepção só tem contato com as impressões das coisas, com os seus sinais, com as informações sobre elas que nos estão disponíveis naquele momento e sob aquela perspectiva. O que vemos, tocamos, cheiramos, ouvimos é apenas aquela parte dos fenômenos que se mostram para nós e esses dados, considerados em si mesmos, nem sempre são capazes de nos informar o que as coisas realmente são.

No entanto, ainda assim, geralmente, mesmo assimilando apenas parte das coisas sabemos dizer o que elas são. Por exemplo, mesmo quando passeio pelo jardim, olhando para o chão, ao avistar o tronco de uma árvore, sem olhar para suas folhas, sei que ali se encontra uma árvore. O que eu quero dizer é que mesmo tendo dados parciais sobre os fenômenos, o mundo não nos parece um amontoado de dados sem sentido. Mas como sabemos isso?

Aí está o papel da nossa inteligência. Se a nossa percepção nos dá apenas as informações parciais das coisas é a inteligência que completa esses dados, fornecendo o sentido inteiro do fenômeno.

A inteligência, fazendo uso da memória, do raciocínio e das abstrações ajusta os dados sensoriais, fornecendo a informação correta sobre aqueles dados. Por exemplo, se eu vejo uma xícara sobre a mesa, olhando-a de frente, penso tratar-se de um copo; ao aproximar-se e olhá-la por outro ângulo vejo que ela possui uma alça, tratando-se, portanto, na verdade, de uma xícara; no dia seguinte, quando a vejo na mesma posição do dia anterior, mesmo não enxergando sua alça, já a vejo como uma xícara porque agora eu sei, por ter sua imagem em minha memória, que ela tem uma alça.

O fato é que a inteligência corrige a nossa percepção, como no caso das linhas paralelas que, à vista, se tocam no horizonte. Se porém, sabemos que elas não se tocam, não é pelo que estamos vendo, mas pelo que nossa
razão nos diz. E como sabemos? Pelo que aprendemos, seja pela experiência ou aprendizado, guardamos na memória e aplicamos inteligentemente sobre o fato observado, corrigindo-o.

A verdade é que a inteligência é a senhora do conhecimento. Dela é a palavra final. O conhecimento pode iniciar-se pelos sentidos e deles não poder prescindir, mas é certo que a determinação decisiva sobre a coisa observada é da inteligência, que confirma, completa ou corrige a informação tomada pela percepção.

Por isso, diz-se que a liberdade humana só pode ser alcançada pela razão, já que é ela que nos permite superar a imposição dos dados imediatos da experiência, ajudando-nos a transcender as sensações e permitindo que não sejamos guiados pelas impressões, mas que ajustemos nosso conhecimento para que reflita não somente o que percebemos, mas o que as coisas realmente são.

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