FILOSOFIA INTEGRAL | Mente Aberta

Muito se fala do hábito e do quanto ele pode tornar nossa vida mais fácil. Pouco se fala, porém, do quanto ele pode atrapalhar a nossa inteligência.

A função do hábito é permitir com que façamos atividades corriqueiras de maneira a que não precisemos pensar demais sobre elas, gastando, assim, menos energia mental. Esse é o motivo por que o hábito  faz com que nos sintamos bem. A partir do momento que aquilo que fazemos não precisa ser pensado, nossa natureza percebe que tudo está acontecendo exatamente como ela se sente melhor: realizando sem precisar se cansar demais. 

Mas o hábito tem um aspecto perigoso e pouco considerado: seu potencial de afastar a reflexão. Como, com ele, passamos a agir de forma mecânica e quase sem consciência – ainda que em atividades meramente materiais essa seja, a maioria das vezes, a melhor forma de agir –, os pensamentos habituais têm a tendência de transformarem-se em padrões, os quais repetimos cotidianamente, quase de forma automática, deixando de lado o exercício da razão. 

Com a reflexão afastada, o hábito faz com passemos a repetir padrões de pensamento, o que, depois de um tempos, torna-nos meros imitadores de nós mesmos. Ou seja, simplesmente reiteramos as mesmas ideias, as mesmas fórmulas, os mesmos conceitos, numa perpétua auto-confirmação. Como consequência, fechamo-nos para novos conhecimentos e novas maneiras de encarar os assuntos.

Pior ainda quando o hábito está em harmonia com as nossas aptidões. Segundo Gaston Berger, “quando a concordância entre aquilo que se é levado naturalmente a fazer e aquilo que se deve efetivamente fazer é muito íntima, a consciência se oblitera e o indivíduo se mecaniza”. O que ele quer dizer é que a retroalimentação é ainda mais intensa quando a atividade está de acordo com as inclinações da pessoa, com seu temperamento, com seu gosto. Quando isso acontece, a tendência de ver o mundo somente pela perspectiva dessa atividade é ainda maior. É o problema do especialista burro e orgulhoso, que o Ortega y Gasset trata.

Como, porém, nós não queremos obliterar nossa inteligência, então precisamos entender que ter consciência de que existe um mundo além daquilo que estamos acostumados a pensar é fundamental. Precisamos sempre lembrar que fora do nosso imaginário existe um universo gigantesco e que, se nos fechamos para esse universo, estamos condenados a meramente reiterar os mesmos pensamentos, os mesmos padrões e, inclusive os mesmos erros, tornando-nos, então, fanáticos, obtusos.

Por outro lado, se nos abrimos aos conhecimentos que estão além do nosso modo costumeiro de pensar, não apenas adicionamos novas ideias àquelas que já possuímos, mas nos permitimos olhar para estas por outros ângulos, revisitá-las com outros olhares, sendo capazes, inclusive, de reavaliá-las e modificá-las, se necessário.

Por isso, é indiscutível o fato de que ter uma mente aberta é um pressuposto para a inteligência, afinal, só quem a possui é capaz de evoluir.

Claro que não proponho que a pessoa tenha a mente aberta a ponto de seu cérebro saltar de sua cabeça. Estar aberto para ideias diferentes não significa não ter convicções, nem princípios. Pelo contrário, é impossível ser inteligente sem isso. Porém, não permitir que nada novo seja acrescentado ao nosso inventário de conhecimentos destrói o nosso senso crítico e a nossa capacidade de reavaliar-nos – o que, obviamente, tornaria-nos mais burros.

Por isso, temos de tomar cuidado para que nossas convicções não se tornem tão irredutíveis e tão inflexíveis a ponto de atrofiarem a nossa razão.

Portanto, nunca tenha medo de um pensamento diverso, ainda que ele lhe pareça excêntrico; nunca se feche para uma ideia insólita, ainda que ela lhe soe extravagante. Lembre-se que há muitos tesouros escondidos no desconhecido e muitas possibilidades naquilo que sequer conseguimos imaginar.

4 COMENTÁRIOS

  1. Excelente reflexão professor Fábio, muito obrigado!

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