ENTREVISTA | Democracia, Amor e Loucura

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Paulo Henrique Araújo fala sobre seu mais recente livro, que trata da marcha revolucionária nos últimos cinco anos

Nos últimos dias, em meio à polêmica em torno da foto de Jair Bolsonaro de mãos dadas com Aldo Rebelo, topei o termo “Direita de Esquerda” – cunhado por Letícia Catel – para designar os fiéis apoiadores de nosso ex-presidente em toda e qualquer ação que ele tome. Não haveria designação melhor a essa fauna, a não ser, talvez, pela que já cunhara Paulo Henrique Araújo: Direita Bolchevique.

Dessa direita conservadora-revolucionária, embriagada – muitas vezes sem sequer saber – pela vodca russa mais vagabunda, Paulo trata em seu mais novo livro, A direita no hospício da democracia e a ditadura do amor. Mas não só dela: atento às movimentações geopolíticas e às expressivas mudanças culturais que tem observado no Brasil e no mundo, PH registrou em mais de 100 artigos as mais diversas frentes do intenso avanço da mentalidade revolucionária dos últimos 5 anos. Dessa safra, ele selecionou o que havia de melhor, os 36 textos que compõem o último lançamento da PHVox.

Para saber mais sobre essa obra, acompanhe a seguir a entrevista com um dos melhores analistas políticos do Brasil atualmente.


Revista Esmeril: Você lançou recentemente o livro A direita no hospício da democracia e a ditadura do amor. Como surgiu a ideia deescrevê-lo, e de que ele trata?

Paulo Henrique Araújo: Ao longo do período entre 2019 e 2023, ao observar o desenrolar dos acontecimentos políticos no Brasil, passei a notar diversos fatores oriundos da natureza humana e, ao mesmo tempo, da instrumentalização ideológica. Registrei estas observações em mais de 100 artigos neste período. A ideia da obra é tratar os fatos além da hashtag do dia, colocar um olhar mais aprofundado nos acontecimentos. A indignação, o ranger de dentes, as injustiças e a insatisfação já nos é bem clara. Mas quais são os motivadores e os comportamentos naturais ou conduzidos neste processo? É possível entender a situação além dos mexericos e fofocas políticas diárias? Desvendar isto é o principal objetivo do livro.

Revista Esmeril: Os artigos do livro estão divididos em duas partes – que constituem o título do volume. Qual foi o critério para essa divisão?

Paulo Henrique Araújo: Sim, os dois eixos centrais são: “Democracia” e “Amor”, palavras-gatilhos que passaram a ser usadas e defendidas em processos completamente contrários ao seu real significado na realidade.

Na primeira parte, em que trato do conceito da “democracia”, há uma série de artigos nos quais apresento fatos que evidenciam que estamos vivendo um regime totalitário em nome da democracia, aproveitando cada tema específico e mostrando, com base em dados históricos, análise de regimes totalitários, documentos e técnicas de controle de massa e como em nome da proteção de algo pode-se simplesmente implementar uma tirania que destruirá o restante.

Na segunda parte, em que trato do “amor”, trabalho a aplicação da perfeita subversão linguística que George Orwell apresenta em suas obras comparativas ao regime soviético (A Revolução dos Bichos e 1984). Foco-me sobretudo no regime de medo e perseguição postos na pior prisão que pode existir: a mente das vítimas. Destaco alguns capítulos como: “O verdadeiro fascismo que poucos enxergam”, “Pacatomaquia – o homem comum contra a revolução”, “As mentiras em que adoramos acreditar e como elas moldam o mundo”, entre tantos outros.

Revista Esmeril: Entre os vários assuntos tratados em seu livro, gostaria que comentasse sobre um bastante peculiar: o fenômeno do “conservador revolucionário”.

Paulo Henrique Araújo: Este ponto é tão importante que, além dos primeiros tópicos mencionados anteriormente, acabei por criar um terceiro eixo no livro: basta ser de direita? É extremamente fácil e cômodo tratarmos uma discussão tão complexa como o brasileiro médio está acostumado, utilizando a esquerda como um espantalho dialético. Mas em nossas atitudes, cosmovisão e maneira de querer implementar as coisas, no que estamos acreditando e aqueles que estamos seguindo, estamos de fato sendo conservadores ou revolucionários?

O fenômeno que me chamou a atenção para isto foi uma certa parcimônia em renunciar a valores fundamentais para um indivíduo dito conservador, em nome de concessões políticas. Também, e principalmente, o surgimento de uma jabuticaba de gosto estranho no Brasil e nos Estados Unidos, a “Direita Bolchevique”.

Revista Esmeril: Para terminar, comente sobre os apêndices do seu livro (“Obrigado, Professor Olavo” e “Portugal e Brasil: Impérios católicos ontem e hoje”). Eles podem servir como algum alento em meio às trevas tratadas nos outros 34 textos?

Paulo Henrique Araújo: Absolutamente! O texto do professor Olavo foi escrito no aniversário de um ano de seu falecimento. Olavo de Carvalho foi e é uma pessoa importante em minha formação, mas muito diferente do que a maioria imagina e idealiza sobre o professor. Muitos o creditam como uma espécie de guia político ou guru, como seus detratores gostam de chamá-lo. Neste texto, eu deixo claro o que realmente Olavo de Carvalho significou e como ele mais me marcou como aluno – falo aqui dos valores e virtudes diários que precisamos alcançar. Um exercício daquilo que todo católico precisa travar como uma batalha sem fim: a vida interior – como gosto de dizer, você contra si mesmo em frente ao espelho.

Já o artigo sobre Portugal e Brasil trata do lado transcendente da nossa história enquanto nação, mas sobretudo enquanto povo, as ligações profundas que temos com Portugal enquanto missão em seu ato fundador, como a Providência em diversos momentos tornou o Brasil o ato contínuo dessa história, apesar das divisões políticas ao longo dos séculos. Tanto a história e o papel de Portugal, quanto a história do Brasil, são amplamente destruídos e escondidos, para atingir objetivos ideológicos e formação de um novo imaginário revolucionário, em que tudo é destruído em nome de um ideal futuro. Este capítulo final é um olhar para trás, para nos lembrarmos do que de fato é o nosso povo, apesar de todas as mazelas às quais estamos sujeitos.


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