Nesta edição, Claudio Dirani comenta como a cultura irlandesa foi inundada por religião e política desde a grande Reforma Protestante
But I won't heed the battle call
It puts my back up
Puts my back up against the wall
Sunday, Bloody Sunday...Sunday, Bloody Sunday!
Sunday, Bloody Sunday – War – 1983 (Island Records)
Não é preciso ser fã do U2 para conhecer um pouco da história por trás de dois eventos – ambos conhecidos como Domingo Sangrento. Também não é necessário ter empatia por Bono para tentar saber mais sobre a letra do single “Sunday, Bloody Sunday”, lançado pelo grupo irlandês em março de 1983.
Quando música e história se colidem, nada melhor que revisitá-las.
OK. É certo que a banda já contou e recontou algumas versões de sua origem, até mesmo usando metáforas bíblicas para tentar escapar da crueza dos fatos.
São eles, pela ordem:
21/11/1920: Ataque promovido pelo Exército Republicano Irlandês (IRA) na católica Dublin causa a morte de oficiais da inteligência inglesa, em nome da independência do país.
30/1/1972: Execução de ativistas católicos em Derry na britânica e protestante Irlanda do Norte.
Para compreender melhor essa batalha entre Norte e Sul, protestantes e católicos, britânicos e republicanos, Ulster e EIRE, Belfast e Dublin, é preciso retroceder bastante. Tudo começou com a ocupação da Irlanda a mando do Rei Henrique II.
Em 1175, o Tratado de Windsor fez com que a pequena ilha fosse regida pelas leis inglesas. Assim, o majoritário católico país foi tomado por galeses, escoceses e ingleses.
Já a metamorfose religiosa teria seu mais importante episódio mais de três séculos depois. No ano de 1534, entra em cena Henrique VIII, que rompe com a Igreja Católica e determina o Anglicanismo como religião oficial. Era o início da grande Reforma Protestante.
Música/Religião/Política
Quem acompanha de perto história e história da música pop, dificilmente consegue desconectar os fatores sócio-políticos e religiosos da arte irlandesa. Além do contexto católico-protestante, os irlandeses nunca engoliram a presença britânica em seu território.
Depois de muitas batalhas – incluindo a emblemática Revolta de 1798 – os irlandeses alcançaram a façanha de formar maioria no parlamento britânico em 1918, após forte atuação do movimento nacionalista Sinn Féin (Nós Sozinhos). O passo seguinte seria a independência reconhecida por Londres em 1921, criando a República da Irlanda, capital Dublin (Belfast, na região de Ulster, ficaria de fora, compondo a ainda britânica Irlanda do Norte).
Não se engane. Com o reconhecimento da independência, os conflitos entre irlandeses do norte e do sul, não deixavam a população sossegar. O Exército Republicano Irlandês agora tinha como missão unir as duas capitais, Dublin e Belfast, a qualquer custo.
Muitos atentados ainda seriam registrados, mesmo após a promulgação da primeira constituição irlandesa (que estabelecia o nome do país como EIRE) e do tratado de paz firmado em 1998.
Apesar dos domingos sangrentos, a missão dos irlandeses na hora de fazer música prosseguiu – e continua: o de unir as fronteiras e contar histórias, prática que nasceu com a música tradicional, combinada a outros gêneros como polca, baladas, folk e lamentos.
A seguir, a CrossRoads traz um Best Of do pop das Irlandas, passado e presente.
EIRE (REPÚBLICA DA IRLANDA) | ULSTER (IRLANDA DO NORTE) |
U2 | Van Morrison/Them |
Rory Gallagher | Gary Moore |
Thin Lizzy | Two Door Cinema Club |
The Chieftains | Enya |
Gavin James | Snow Patrol |
The Cranberries | The Strypes |
The Corrs | The Undertones |
Westlife | The Clancy Brothers |
My Bloody Valentine | Clannad |
Sinéad O’Connor | Gary Lightbody |
Inhaler | Public House |