CESAR LIMA | Bolsonaro não é Trump

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Os movimentos de Trump, tanto durante a campanha quanto nesses poucos dias, tem gerado na Direita brasileira uma grande expectativa com relação a um eventual segundo mandato de Bolsonaro. Isso é natural, mas com poucos fundamentos. Vejamos.

Ambos tem uma trajetória semelhante em seus primeiros mandatos. Ambos vieram em uma esteira de cansaço das pessoas com a Esquerda mundial; tiveram mandatos difíceis, com antagonismos dentro da imprensa e, principalmente, dentro de seus respectivos Judiciários. Enfrentaram oposições bem consolidadas e não conseguiram reeleger-se em processos eleitorais heterodoxos e cheios de questionamentos, para dizer o mínimo; além de ficar bem claro que, tanto um como o outro, não estavam bem preparados.

As semelhanças, no entanto, acabam aí. Para entender isso, é preciso analisar o que os Republicanos, e o próprio Trump, fizeram para possibilitar a volta deste e dar subsídios para a verdadeira disruptura que está promovendo nos primeiros dias de seu segundo mandato.

Desde que saiu da Casa Branca, Trump trabalhou incessantemente para unificar os Republicanos em torno de si. Enquanto isso, vários think tanks conservadores, trataram de estudar tudo que atrapalhou o primeiro mandato, elaborar relatórios e apresentar soluções para um eventual segundo mandato. Esse movimento também preparou pessoas para auxiliar o eventual Presidente eleito. Esse documento ficou conhecido como “Project 2025”.

Analisando os atos iniciais de Trump vemos a materialização, quase ipsis literis, desse projeto. Também vemos o Presidente americano mais preparado. Trump tem causado um terremoto na política americana. No mundo não tem sido diferente. Nesses pouco mais de vinte dias, as ordens executivas do Presidente americano tem chocado os EUA e o mundo. Os burocratas estão aturdidos e em pânico. Seu poder paralelo e sua fonte inesgotável de recursos estão sendo desmantelados. Sem exagero, é um momento histórico.

Somando seu poder de liderança característico com preparo pessoal, e do seu entorno, Trump está transformando a política americana desde a sua base, com claros reflexos também na geopolítica, com líderes mundiais sendo pegos de surpresa. Trump está mais maduro, preparado, com um plano bem definido e pessoas preparadas para executá-lo.

Vejamos, então, o que se passou com Bolsonaro. Assim que saiu da presidência ele desapareceu. Seguiu-se um turbilhão de censura e perseguição política se abateu sobre os conservadores. Muitos dos perseguidos nem bolsonaristas eram. Diante desses ataques, a Direita brasileira, acossada, passou a buscar acordos eleitorais com o Centrão, com vistas às eleições municipais de 2022. A justificativa era a tomada de espaços políticos para uma posterior vitória eleitoral em 2026.

Críticas aos erros do primeiro mandato e à estratégia para 2026 passaram a ser caladas pela própria Direita. A autocrítica passou a ser qualificada como traição. As Fundações de Partidos Políticos considerados “de Direita” permaneceram imunes a estudos e cursos de preparação de futuros líderes. Qualquer estudioso de política conservador era ignorado ou, pior, desqualificado porque “não tinha um plano”.

As eleições municipais vieram. Ao contrário das narrativas da Esquerda e da Direita, viu-se uma vitória, não dos conservadores, mas do “Centrão”. A Direita hoje está mais fraca e dividida do que estava em 2018.

Bolsonaro, assim como Trump, nos Estados Unidos, permanece o líder da Direita no Brasil, com grande apelo popular. Porém, diferentemente de Trump, ao invés de preparar-se para um segundo mandato com um reforço da agenda vencedora do primeiro, entendeu que deveria fortalecer-se com alianças, muitas delas espúrias. O principal objetivo é reverter sua inegibilidade e evitar sua prisão. Só então se passaria a ver como chegar fortalecido na próxima eleição.

Não há um plano. Não há preparação de entorno. Não há autocrítica ou trabalho de base, apenas interesse eleitoral. Isso houve nos Estados Unidos com Trump. No Brasil, nos limitamos a um mero interesse eleitoral. Trump pensou nos fundamentos antes do jogo e venceu. Bolsonaro focou no jogo. Essa é a diferença. A ver os próximos capítulos de ambos.

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