SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Por que estudar Eric Voegelin

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Quem se interessa por política precisa estudar Eric Voegelin – um dos melhores pensadores do Século XX. Recentemente, saiu artigo na Revista Unamuno sobre ele. Vale a pena a leitura. O mote é a reedição do livro ‘A Nova Ciência da Política’, mas Alexandre Marques vai além e aproveita para contextualizar a obra voegeliniana em comparação com outros dois grandes filósofos do século passado: Leo Strauss e Hannah Arendt.

Nessa comparação, Alexandre faz um ponto que também fiz na minha dissertação de mestrado. Ele escreve “Voegelin não defendia um passado ou uma escola de pensamento, mas um método.” Voegelin não escreveu apenas sobre política. Porém, suas abordagens à filosofia, à história, à política, às artes, à teologia, etc., sempre tiveram no método seu elo comum.

O desafio do filósofo, do cientista, está em conhecer a realidade. O foco da metodologia voegeliniana é justamente esse. Voegelin nasceu em 1903 e morreu em 1985. Durante toda a sua vida, experimentou tempos turbulentos: as Grandes Guerras; e a Guerra Fria. Diante de tal desordem social de proporções globais, ele foi à procura da fonte de Ordem.

Voegelin acabou encontrando a Ordem nele mesmo. “A busca da ordem correta da sociedade é já, portanto, a manifestação dessa mesma ordem no intelecto e vontade pessoais do filósofo”. Contudo, isso não é tão simples quanto parece. Afinal, o filósofo “não poderia saber a ‘sociedade justa’ se não fosse, ele próprio, justo.” Portanto, “tornar a si próprio justo é a primeira etapa do caminho de como tornar-se um filósofo.

Porém, em nós mesmos encontramos tanto a Ordem quanto o caos. É preciso aprender a distingui-los. Não é um caminho fácil. É sempre uma jornada pessoal. Outrossim, é uma via a qual não trilhamos sozinhos. Voegelin pega carona com outros que embarcaram na viagem e nos convida a participar dela com ele também.

Aqui, no entanto, há um ponto importante a esclarecer. Eu costumo brincar que Voegelin escrevia mais para ele do que para o leitor. Alexandre parece discordar. Ele afirma ser, para Voegelin, uma “obrigação do filósofo… escrever de modo compreensível.” Porém, na frase seguinte, acrescenta: “Apesar da impressão que se possa ter de uma primeira leitura de seus livros…

Explico. Ler Voegelin não é nem um pouco fácil. Todavia, ele não escreveu deliberadamente de modo “obscuro” ou “abstruso“. A dificuldade na leitura deriva muito mais da desordem reinante e da nossa própria ignorância do que propriamente do estilo de Voegelin.

Claro. Não nos ajuda em nada o fato de Voegelin ter por costume reescrever suas idéias no momento em que as pessoas imaginavam tê-lo compreendido. O ‘A Nova Ciência da Política’ é um livro de transição entre o ‘História das Idéias Políticas’ e ‘Ordem e História’. Posteriormente, esse papel coube ao ‘Anamnese’ – que introduz o rompimento com o projeto original de ‘Ordem e História’.

¿Por que Voegelin fazia isso? Ele faz isso justamente porque sua principal contribuição à filosofia e à política não está nos seus escritos. Sua obra não é um ponto-de-chegada. Trata-se, na verdade, de um meio. A principal contribuição de Voegelin somente pode ser encontrada em nós mesmos.

E é um caminho que vale muito a pena seguir.

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