Há quem não veja nada demais na bandeira gigante dos Estados Unidos desfraldada na Avenida Paulista no domingo, sete de setembro. Há até quem creia ter sido o certo a fazer. [Buenas, não surpreende. Afinal, alguém teve a idéia, alguém pagou pela confecção, alguém carregou o bandeirão até a avenida, e alguém organizou a abertura e o recolhimento daquilo. No mínimo, esses alguéns aprovaram o ato.]
Eu conversei com algumas pessoas desde domingo. Agora, até consigo conceber como é possível aceitar algo do gênero. Todavia, ainda não consegui concordar com isso.
Os principais argumentos dos defensores do ato são de que isso era necessário para chamar a atenção da imprensa internacional e informar o governo americano que as medidas tomadas têm forte apoio interno, pelo que podem continuar. Diz-se também que a Esquerda não gostou, logo seria bom; e que eles nem podem reclamar por usarem outras bandeiras, como as de Cuba, Palestina, U.R.S.S., etc.
Não vou me ater a esses últimos. As falácias são óbvias demais. O que a Esquerda gosta ou deixa de gostar, faz ou deixa de fazer, não têm em si poder algum para determinar o que é certo, justo, ou bom. Esse tipo de postura serve apenas para deixar-se pautar pela Esquerda.
Sobre os primeiros argumentos, é preciso respondê-los com maior zelo. Aceitemos por ora que: (a) realmente havia a necessidade de alertar a mídia estrangeira sobre a situação política nacional e requerer mais ajuda ao governo americano no embate contra o atual regime; (b) a data cívica oferecia uma oportunidade para se alcançar tais objetivos; e (c) o ato cumpriu a função destinada. Podem-se discutir tais premissas noutro momento. O foco aqui está no modo escolhido.
Os fins não justificam necessariamente os meios. Pode-se matar uma barata com uma granada-de-mão, por exemplo. No caso, o objetivo é cumprido. Contudo, pode-se cumpri-lo sem destruir a casa. Da mesma forma, sendo possível operar um paciente com anestesia, não há razão para fazê-lo sem. Igualmente, é preferível ir de São Paulo ao Rio de Janeiro sem precisar passar por Manaus no trajeto. Portanto, o ato ter cumprido sua função não serve de justificativa.
Eu sei que o Sete de Setembro, o “Dia da Secessão”, não é a principal data cívica brasileira. [É o Carnaval.] Outrossim, o patriotismo brasileiro manifesta-se de maneira peculiar quando comparado com as demonstrações desse sentimento noutros países. Ademais, nós, enquanto povo, tendemos a ser menos solenes que nossos homólogos.
Não há nada de errado nisso, diga-se. Somos quem somos. Devemos aceitar essa realidade antes de tudo. Isso também ajuda a entender o porquê de se relevar o bandeirão americano e, até, de apoiá-lo em pleno aniversário do Brasil. Contudo, há limites; e esses foram ultrapassados. Após a necessária autoaceitação, devemos almejar sermos a melhor versão de nós mesmos. Não fomos.
Carregar bandeira de outro país numa manifestação política já é algo complicado por si só. Fazê-lo num dia em que se está celebrando a identidade nacional é simplesmente inaceitável. Que alguns indivíduos o façam é ruim, mas podem ser ignorados como meras questões particulares. O ato na Avenida Paulista, no entanto, foi coletivo. Juntamente com a mensagem que se queria transmitir, passou-se também outras [que muitos aprovam, frise-se].
O “conservador revolucionário” brasileiro é aquele que almeja transformar o Brasil noutra coisa, primeiro, para só depois conservar esse algo novo que ele criou. Substancialmente, não há diferença alguma desse para o “revolucionário” de Esquerda. O ódio mútuo se resume ao fato de os sonhos serem distintos.
Tal conservadorismo é apenas de fachada, pois busca emular o conservador britânico ou o americano. O “conservador revolucionário” seria conservador se tivesse nascido na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Como nasceu no Brasil, trata-se apenas de mais um tipo de revolucionário revoltado contra sua condição natural.
Da forma como foi realizado, o ato da Paulista foi justamente uma manifestação revolucionária; uma deliberada agressão à brasilidade. Pelo bem da nossa comunidade política, esse não pode ser defendido. Não pode sequer ser tolerado. O “viralatismo” é uma enfermidade política. Não há nada de positivo nesse.
A luta contra o regime só faz sentido se for uma luta para a restauração do Brasil. Para alertar a mídia estrangeira sobre a situação política nacional e requerer mais ajuda ao governo americano no embate contra o atual regime era necessário encontrar outro caminho. Eu, ontem, por exemplo, imaginei uma alternativa:

“Ajuda-nos a consertar isto, Sr. Trump. Os EUA precisam desfazer aquilo que fizeram para nós.”
Não podemos nos esquecer que os Estados Unidos colaboraram para chegar na situação que estamos. Eles estão somente tentando corrigir um problema sobre o qual eles têm uma parcela importante de responsabilidade. Enaltecê-los por isso é tipo parabenizar as cobras por fornecerem as bases para o soro antiofídico.