SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Me Recuso a Celebrar Assim: festas juninas

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

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100ª edição desta coluna. Até ia escrever uma segunda parte da coluna sobre o aborto, mas me sinto obrigado a desabafar sobre as festas juninas aqui da cidade. Chê, não me passam uma sensação boa. Aliás, antes fosse só isso, pois me passam uma sensação horrível. Claro que o problema pode muito bem ser eu, mas ainda acho que não seria só eu. É uma experiência de total falta de identidade.


Terça-Feira, 3 de Quintubro de 524

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui.]

Desde que me mudei para Uruguaiana, a cidade dos meus pais, chega junho e algo me incomoda talvez mais do que deveria: as festas juninas. Eu gosto bastante daqui. Me descobri uruguaianense. Até então, eu não sabia. É exatamente essa minha ligação com a cidade que tornaram as festas juninas daqui insuportáveis para mim.

Festas populares têm uma razão-de-ser. Elas não existem por acaso ou simplesmente porque alguém achou bonito. Elas são expressão da cultura das pessoas daquele lugar.

Festas populares estão para a sociedade como as festas de aniversário estão para os indivíduos. São celebrações daquilo que se é; e aquilo que somos, o que nos confere identidade, é determinado pelo que temos de intrinsecamente bom.

[Claro que mesmo onde são propriamente celebradas, pode haver deturpações no caráter da festa. Contudo, deturpações não são manifestações culturais; e, sim, sintomas de degeneração da cultura. Vale o mesmo para os indivíduos. Apesar de ser tema interessante, isso já é assunto para outra coluna.]

Não nego que se pode aprimorar o que somos por influência externa. Todavia, a aparência é um acidente. A identidade se preserva na mudança.

No caso específico das festas populares, pode-se muito bem adotar celebração alheia. Isso é normal, inclusive. O problema é outro.

Ao se adotar algo alheio, esse deixa de ser “alheio”. Esse deixa de ser aquilo que é no outro. Não é só o adotante que muda; mas aquilo que é adotado, também.

Por exemplo, o carnaval, a festa no Rio de Janeiro não é igual àquela em Salvador que, por sua vez, é diferente daquela em Recife, etc. É a mesma celebração, mas cada comunidade imprime sua identidade ao festejá-la.

Esse é o ponto.

Uma festa popular só faz sentido se for VERDADEIRA. Todavia, NENHUMA das festas juninas que presenciei em Uruguaiana é assim.

Não surpreende que não tenham se tornado algo realmente popular por aqui. São festas isoladas, organizadas aqui e ali, em escolas ou por particulares. Não é algo que a comunidade realmente tenha abraçado.

Uma razão para que seja assim é tudo nessas festas parecer falso. Nunca há algo de uruguaianense ali. É sempre uma imitação de uma caricatura de outro. São celebrações de um NÃO-SER.

Todas as vezes que vou numa me pego me questionando: se é para ser desse jeito, qual o ponto de se fazer isso, afinal?

Eu, sinceramente, não enxergo motivo algum.

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