SANQUIXOTENE DE LA PANÇA | Eu, um Extremista

Paulo Sanchotene
Paulo Sanchotene
Paulo Roberto Tellechea Sanchotene é mestre em Direito pela UFRGS e possui um M.A. em Política pela Catholic University of America. Escreveu e apresentou trabalhos no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. É casado e pai de dois filhos. Atualmente, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, onde administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna).

Há quem diga: “bandeira do Brasil e camisa da Seleção são puros símbolos extremistas


Há algo de verdadeiro na afirmação de que eu seja extremista. Imagino que algo semelhante passe com várias outras pessoas. Resolvi explicar esta semana por que somos extremistas.


Terça-feira, 10 de Quartubro de 524

[para saber mais sobre o calendário tupiniquim, clica aqui.]

Leio isto no Twitter há algumas semanas:

Infelizmente, quem deve tirar proveito da falência de Melo é a extrema-direita… [O] segundo turno é cristalino para esse grupo. Chegando lá, as chances de o antipetismo falar mais alto são grandes. Espero estar equivocado, mas os últimos anos têm mostrado que a extrema-direita tem sido capaz de crescer mesmo em contextos adversos…

Não me agüentei e resolvi comentar:

Se ao menos a Esquerda tivesse governado Porto Alegre, o Rio Grande do Sul, até o Brasil, nada disso de hoje estaria acontecendo. Isso vai acabar favorecendo os verdadeiros culpados: a ‘Extrema-Direita’. Uma pena…

Um amigo fisgou a isca, pelo que se seguiu uma breve troca de mensagens:

— A bem da verdade é que não há esquerda na prefeitura de Porto Alegre há 20 anos. Há um esquecimento, uma memória perdida da Porto Alegre daquele tempo.

— Depende da definição de Esquerda. Se eu fosse seguir o ímpeto da postagem, p.e., diria que a “Extrema-Esquerda” governou de 1988 a 2004. Desde 2005, veio a Esquerda. De qualquer sorte, acrescentei o RS e a União da lista exatamente por isso.

— Peraí. Nem Júlio Flores nem Vera Guasso nunca foram eleitos para a prefeitura de Porto Alegre. A extrema esquerda sequer conseguiu vaga na câmara de vereadores na história desta cidade.

— Para tu veres como há exagero no que se chama de “Extrema-Direita”.

— Ah, compreendi o raciocínio…

Não sei ele realmente entendeu, mas quero acreditar que sim. Sobre isso, em 2019, escrevi para outro amigo:

Quando o ‘vizinho simpático e o colega de trabalho divertido’ são considerados de ‘extrema’ e alijados do jogo político porque defendem valores religiosos, preocupam-se com a família e a educação de seus filhos, preferem liberdade para empreender ao cuidado estatal, querem exercer seu dever de proteger os seus e os próximos, não tem vergonha de serem brasileiros, exigem que a elite pare de se comportar como pobres com dinheiro, há algo muito errado.

Pois, seguimos sendo “extremistas”. ¿Por quê? Sem entrar no mérito do que entendo ser, de fato, extremismo em política [1], quero responder essa questão. Até acho que já toquei nesse tema, mas serei direto desta vez.

Há algo de verdadeiro na alcunha “Extrema-Direita” endereçada a nós. Pelo menos, na endereçada a mim… No fundo, afirma algo que concordo. Chama-se de ‘Extremista’ aquele que está fora do consenso constitucional. Se for de Esquerda, é “Extrema-Esquerda”; se for de Direita, “Extrema-Direita”. Estou fora do consenso, logo sou “extremista”.

Eu estar fora do consenso, trata-se de um fato. Eu tenho 43 anos, e desde que me lembro é assim. Minhas opiniões políticas são inconstitucionais. Essas não são muito distintas das que eu descrevi acima, mas são suficientes para não serem aceitas no debate público.

Aqui é que reside o problema. Para aqueles que me colocaram fora do consenso, não há diferença alguma entre as minhas opiniões e a de tarados como os teocratas, os libertários anarquistas, os integralistas, etc. Me aceitar e aceitá-los é a mesma coisa. Então, para não correr qualquer risco, que eu pague o pato.

O consenso é estreito por excesso de zelo de pessoas que, humildemente, assumem ser melhor para todos nós que somente as opiniões deles (ainda que, admita-se, haja alguma margem para contradições) prevaleçam. Política é feia e suja. Políticos não são dignos de confiança. É melhor, para salvaguardar a democracia, limitar o máximo a política e dar o poder para os profissionais — os quais estão imunes dos humores do eleitorado.

As decisões já estão tomadas. É tudo uma questão de “gestão” e de “direito”.

E quem discordar disso é anti-democrático e extremista.


Notas:
[1] Extremismo seria polo de um eixo em cuja outra ponta está o Centrismo, mas isso é tema para outro dia.

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