Creio que todo mundo já viu a famosa foto dos corpos de Mussolini e seus asseclas pendurados na Piazzale Loreto em 1945. Costuma-se, ainda, fazer piadas macabras colocando fotos de atuais figuras políticas da direita de cabeça para baixo em alusão ao líder fascista morto, simbolizando, dessa forma, o desejo de destinar-lhes o mesmo fim.
Contudo, a famosa foto que circula por aí não é a original; ela é editada – mais precisamente, cortada. Na foto que circula, podem-se ver claramente cinco corpos pendurados: da direita para a esquerda, vê-se Achille Starace, Alessandro Pavolini, Clara Petacci, Benito Mussolini e Giuseppe Gerlomini. A foto original, por sua vez, acrescenta mais um corpo à direita de Gerlomini. Quem é esse sujeito cortado da foto original e por que o cortaram? É Nicola Bombacci, homem de confiança de Vladimir Lênin e fundador do Partido Comunista Italiano junto com Antonio Gramsci. Como ele foi parar ali? Bem, porque ele deixou de ser comunista para se tornar um fascista apoiador fanático de Mussolini – que foi seu colega nos dias de militância socialista. Bombacci foi ao encontro de Mussolini na Segunda Guerra para apoiá-lo nos projetos de socialização dos meios de produção na República Social Italiana. Como consequência, foi capturado, fuzilado e pendurado ao lado do Duce.
A figura de Bombacci é altamente polêmica e a esquerda italiana o trata como o pior dos traidores – no nível de colocá-lo ao lado de Cassius e Brutus sendo mastigado eternamente por Satã no nono círculo do inferno dantesco. O mero fato de que um dos fundadores do PCI acabou se tornando um dos mais fanáticos apoiadores do Duce do fascismo já é suficiente para condená-lo ao esquecimento da consciência pública – e houve considerável esforço de realmente apagá-lo de qualquer rememoração histórica. Bem ao estilo soviético, Bombacci foi apagado da maioria das fotos e registros históricos oficiais. Claro que isso é impossível, e ainda mais na era da internet, a figura de Bombacci foi devidamente resgatada para o horror da esquerda que insiste em colocar tudo o que é direita como fascista e como a antítese absoluta do comunismo.
Como vemos, a realidade não é bem assim. Bombacci é apenas o exemplo mais vistoso e famoso de uma relação bem mais ambígua e, em alguns sentidos, harmoniosa entre fascismo e comunismo.
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A farsa é a marca registrada dessa corja.