HOJE NA HISTÓRIA | Nasce Juliana de Norwich, considerada a primeira escritora inglesa

Vitor Marcolin
Vitor Marcolin
Ganhador do Prêmio de Incentivo à Publicação Literária -- Antologia 200 Anos de Independência (2022). Nesta coluna, caro leitor, você encontrará contos, crônicas, resenhas e ensaios sobre as minhas leituras da vida e de alguns livros. Escrevo sobre literatura, crítica literária, história e filosofia. Decidi, a fim de me diferenciar das outras colunas que pululam pelos rincões da Internet, ser sincero a ponto de escrever com o coração na mão. Acredito que a responsabilidade do Eu Substancial diante de Deus seja o norte do escritor sincero. Fiz desta realidade uma meta de vida. Convido-o a me acompanhar, sigamos juntos.

Seu livro “Revelações do Amor Divino”, de 1395, é um marco na história da Mística Cristã

No mundo cristão, ao longo da História, os Santos e Místicos que se decidiram pelo silêncio e recolhimento da vida monástica exerceram, paradoxalmente, importante papel na sociedade. Nos séculos que antecederam o advento do Estado Moderno — e de sua sanha antirreligiosa — a luz sobre as questões de ordem administrativa, diplomática, econômica, cultural, filosófica e, em suma, do âmbito ordinário do cotidiano provinha de uma única fonte: os mosteiros.

Embora a análise esquizofrênica contemporânea exclua, com afetado desdém, a esfera religiosa do campo de análise da sociedade, é impossível analisar a dinâmica social apartada da realidade religiosa. Fazê-lo é, necessariamente, candidatar-se a não entender bulhufas sobre coisa alguma. O fato é que as comunidades humanas surgem e desenvolvem-se sob a ordem natural das coisas. A esfera político-cultural está sob a esfera religiosa e dela se alimenta, respeitando a constituição ontológica do indivíduo humano.

Assim é que os grandes Místicos e Santos guiavam o povo desde a quietude das suas celas; eles aconselhavam a classe política, os administradores da comunidade, exercendo desse modo uma função vital para a ordem não só das instituições como também para a vida interior dos indivíduos. Juliana de Norwich (nascida aos 8 de novembro de 1342), natural do condado de Norfolk, região Leste da Inglaterra, fora uma dessas grandes luzes dos tempos de outrora, quando a Fé Cristã, a despeito da perseguição ferrenha, brilhava vivamente.

Juliana de Norwich numa pintura existente na Igreja de Santo André e Santa Maria, em Langham, Norfolk, Inglaterra. Créditos: Por Evelyn Simak, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=14297887

Não há muitas informações sobre a sua vida. Alguns momentos importantes de sua passagem pela Terra, no entanto, ela mesma descreve em seu livro intitulado “Revelações do Amor Divino”, de 1395. No dia 13 de maio de 1373, Juliana fora atingida por uma doença gravíssima e repentina que, num intervalo de tempo de três dias, parecia que a levaria à morte.

Depois que um sacerdote mostrou-lhe o Crucifixo, Juliana não somente recobrou prontamente sua saúde, como recebeu um conjunto de 16 revelações sobre Jesus Christo. É, portanto, o conteúdo dessas revelações que Juliana registra em seu livro. Quinze anos depois, durante outra revelação, Christo revela-lhe o sentido daquelas primeiras visões.

“Gostarias de saber o que quis dizer o teu Senhor e conhecer o sentido desta revelação? Sabe-o bem: aquilo que Ele quis dizer é o amor. Quem to revela? O amor. Por que to revela? Por amor… Assim aprendi que nosso Senhor significa amor”.

Juliana de Norwich, Il libro delle rivelazioni, cap. 86, Milão 1997, p. 320

O Papa Bento XVI, numa audiência datada de 1º de dezembro de 2010, disse, acerca do livro da mística inglesa, que “o tema do amor divino volta com frequência nas visões de Juliana de Norwich que, com uma certa audácia, não hesita em compará-lo também com o amor materno. Esta é uma das mensagens mais características da sua teologia mística. A ternura, a solicitude e a docilidade da bondade de Deus para conosco são tão grandes que, para nós peregrinos na terra, evocam o amor de uma mãe pelos seus filhos”, afirmou o Papa.


Com informações da Encyclopedia Católica (inglês) e da Audiência Geral do Papa Bento XVI sobre Juliana de Norwich (1º de dezembro de 2010).

“Se Deus pudesse estar irado por um instante, nunca teríamos vida, nem lugar, nem mesmo ser”.

Juliana de Norwich
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