ENTREVISTA | Conheça a UBIQ!

Leônidas Pellegrini
Leônidas Pellegrini
Professor, escritor e revisor.

Gabriel Santana e Matheus Araújo falam sobre seu recém-lançado selo editorial

Em um mercado editorial cada vez mais pautado pela (in)cultura woke, uma das boas novidades de 2024 é o lançamento da Editora UBIQ!, que, segundo os editores Gabriel Santana e Matheus Araújo, chega para resgatar grandes obras esquecidas, trazer ao público brasileiro nomes ainda não traduzidos para o português, assim como revelar novos talentos das letras nacionais.

O primeiro volume do selo, lançado agora em junho, é uma coletânea de contos de Machado de Assis, que reúne Histórias de terror, horror e mistério escritas pelo Bruxo do Cosme Velho ao longo de sua profícua carreira literária. E preparem-se, pois a UBIQ! tem muita coisa boa ainda para este neste ano!

Quer saber mais sobre a UBIQ!? Confira a seguir a entrevista com os editores.


Revista Esmeril: Como surgiu a ideia de fundar a UBIQ!? Qual a razão desse nome?

Gabriel e Matheus: Nosso sonho sempre foi publicar os livros que gostaríamos de ler – tanto os clássicos quanto os contemporâneos. Existem muitos bons autores surgindo que não têm oportunidades em outras editoras. Da mesma forma, existem grandes obras que não foram traduzidas para o português, nem publicadas no Brasil. Além disso, temos obras de língua portuguesa que foram ignoradas. A ideia da UBIQ! é publicar esses autores em uma estética divertida, cativante, descontraída.

Quanto ao nome, UBIQ! é uma expressão antiga da qual não sabemos exatamente sua origem. UBIQ! é a cegueira de Homero, o labirinto de Borges, a Beatriz de Dante, o desconcerto do mundo de Camões, o olhar de Capitu. Na Idade Média, os trovadores utilizavam o termo UBIQ! quando estavam muito inspirados. Quando um repentista ou cantador nordestino cria versos no improviso, dizemos que ele está em um estado UBIQ!

Para resumir todo esse sentimento, resolvemos batizar a editora com o termo UBIQ!

Revista Esmeril: Qual a linha editorial da UBIQ!?

Gabriel e Matheus: Publicaremos tudo o que for UBIQ! Toda a ficção ou poesia que acreditamos fazer parte do nosso escopo será publicada. Entendemos que existe uma lacuna no mercado em relação a obras de gêneros como o horror, o terror, o mistério, o romance policial, obras de cavalaria e os folhetos de cordel. Não queremos publicar os grandes clássicos que todos já conhecem em belíssimas edições comentadas: já existem ótimas editoras fazendo esse grande trabalho. Queremos o esquecido, o ignorado, a raspa do tacho, os dois reais que você encontra no fundo da carteira, aquele restinho da cerveja que sobrou no copo e ainda tem o seu valor.

Também podemos garantir que não faz parte do nosso projeto publicar capas bregas, prefácios de booktubers ou livros com “FODA” na capa. Queremos bons livros, em edições simples e baratas, em uma estética inspirada nas revistas Pulp. Queremos descer os deuses da literatura, que estão no alto do Olimpo das letras, até o chão, perto de nós, sem palco nem pedestal (crítica social foda, hein?).

Revista Esmeril: Comentem sobre o primeiro lançamento da editora.

Gabriel e Matheus: Todo mundo já conhece o bom e velho Machadão. Histórias de corno pra lá, análise da sociedade burguesa pra cá. Acontece que Machado de Assis é muito mais do que isso: para além do que geralmente se estuda nas escolas, nosso primeiro grande Bruxo (o segundo é o Ronaldinho Gaúcho) é um dos maiores contistas da história da literatura, e não perde em nada para Flannery O’Connor, Cortázar, Borges, Tchekhov, Hemingway e vários outros.

Dentro desse escopo, ainda podemos selecionar suas histórias mais obscuras. Por isso selecionamos diversos contos que formam as “Histórias de Terror, Horror e Mistério”, redigimos algumas notas explicativas e, ao fim de tudo, premiamos o leitor com a tradução de Machado ao poema “O Corvo”, de Edgar Allan Poe – a primeira tradução do poema para língua portuguesa.

Revista Esmeril: Podem falar um pouco sobre projetos futuros?

Gabriel e Matheus: Claro! Para este ano, podemos dizer que vamos publicar quatro autores contemporâneos (um realismo mágico neoarmorialista no sertão, uma ficção científica distópica que se passa no Rio de Janeiro, um livro de contos humorísticos e duas sátiras fantásticas) e vários autores clássicos. Machado foi somente o primeiro, pois gostaríamos de inaugurar nossa editora com um brasileiro para já de cara extirpar a síndrome do vira-lata.


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